sábado, 7 de março de 2015

Luan Pereira Felix - Presente

Via Contra o Genocídio do Povo Preto

Hoje, 06/03/2015, faz um ano que o ainda adolescente Luan foi executado pela policia militar na zona leste de SP. Após suspeita de roubo Luan fugiu, entrou no estabelecimento do seu pai e se rendeu, tirou a camiseta para mostrar que estava desarmado, mas mesmo assim o Soldado Elton da Silva Bezerra e o policial Edson José Cremonesi Junior ordenaram para que todos saíssem do local e executaram o Luan com três tiros.

Os PMS alegaram que houve confronto, mas Luan estava desarmado. Esperaram mais de 40 minutos para prestar socorro, plantaram um revolver Taurus calibre 38 no local, além do mais os PMS dispensaram a SAMU (que compareceu no local) e levaram o Luan pro Hospital Municipal de São Mateus na própria viatura da PM, contrariando o teor da resolução SSP 05/2013, lá Luan apareceu com mais uma perfuração de tiro.

A direção dos tiros, que foram de cima pra baixo, aponta que realmente ele estava rendido. Só um lado da loja teve marcas de tiros, ou seja, grandes indícios de execução.
Após um ano o inquérito policial não foi finalizado, as testemunhas não foram intimadas, e a família continua sem auxilio. Na época foi feita a denúncia na ouvidoria da policia também. 

No dia 10 de março de 2015, se estivesse vivo, Luan completaria 17 anos, sua família sente muito sua falta. Luan está na memória! Que apareça a verdade! Que condenem os homicidas de farda!



Estamos de Luto! Estamos na Luta!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

PONTOS CENTRAIS CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE PRETA, POBRE E PERIFÉRICA

Por: Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica

1. ENCARCERAMENTO EM MASSA
- O QUE É O ENCARCERAMENTO EM MASSA?
Chamamos de encarceramento em massa a estratégia utilizada pelo Estado para, através do aprisionamento de jovens, pret@s e morador@s das periferias, promover a exclusão dessa população da sociedade. Em vez de garantir acesso a direitos sociais básicos, como moradia, saúde, educação, alimentação a todos os cidadãos e cidadãs, o Estado responde com mais prisões, torturas e maus-tratos.

- QUEM SÃO ESSAS PESSOAS?
Jovens, homens e mulheres entre 18 e 29 anos, pret@s e morador@s das periferias da cidade. Adolescentes também são constantemente presos nas Fundações Casas na mesma lógica.

- O QUE JUSTIFICA ESSAS PRISÕES?
A maioria dessas pessoas é presa por tráfico de drogas ilegais e por crimes contra o patrimônio (roubos e furtos). Grande parte dessas prisões por tráfico de drogas é forjada pela polícia, ou seja, se o usuário estiver portando um grama de tal droga, a polícia forja a quantia necessária para garantir a apreensão tanto da droga como da pessoa. Uma parcela pequena desse grupo está na condição de trabalhador no tráfico de drogas justamente pela negação de auxílio do Estado em garantir-lhes a mínima condição de subsistência.

Imagine que você tem uma mercadoria que possa produzir um lucro extraordinário, capaz de empregar milhões e lucrar milhares, mas ela é ilegal, o que você faria?
Produza ilegalmente em um local (fronteira nacional) e venda em outro (periferia), eis a resposta da classe dominante!

A classe dominante, composta na sua maioria pela elite branca, lucra em torno de 3 trilhões de dólares com a venda de drogas e armas ilegais, dinheiro remetido para as bolsas de valores do capital financeiro. Ou seja, é ela quem mais lucra com o consumo e venda de drogas. Eis o sentido da proibição, que é uma forma de encarcerar, matar e lucrar. A guerra às drogas é justamente o combustível do quadro atual.

- PELO FIM DA FUNDAÇÃO CASA!

A Fundação Casa (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente), antiga/ATUAL FEBEM, foi criada para executar medidas socioeducativas, que preveem como última alternativa a privação de liberdade de adolescentes entre 12 e 21 anos que cometeram atos infracionais. Mas como sempre aquilo que está no papel não acontece como deveria. 

Na Fundação Casa, ou melhor, no campo de concentração juvenil, a regra é o sofrimento. Os adolescentes são tratados com pontapés, voadoras, socos, dopamentos com remédios, humilhações, intimidações, alimentação muitas vezes estragada e de baixa qualidade. Todos os tipos de violações físicas e psicológicas são praticadas pelos agentes (coordenadores de segurança), em sua maioria ex-policiais (Força Tática, Rota e Choque), com a “pedagogia” do passando pano, sempre se omitindo e agindo em conjunto. É assim que o Estado prega a ressocialização, sendo que nem socialização existiu na vida desses adolescentes.

O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) foi criado para zelar e garantir os direitos dos menores. Porém, se o Estado nunca cuidou desses adolescentes, não vai ser encarcerando que a lei vai ser efetivada. Pelo contrário, quando presos, não há fiscalização e nem preocupação com a situação dos jovens. É aí que a porrada come, deixando sequelas para uma vida toda.

A sociedade enxerga o adolescente que cometeu um ato infracional como um inimigo: não reconhece que seus direitos foram negados, e numa visão rasa, preconceituosa e punitiva, disseminada pela mídia tradicional, apoia as situações degradantes, humilhações, torturas e as próprias grades que privam esses adolescentes de sua liberdade, de seu crescimento, de sua vida.

O sistema foi feito para que esses adolescentes estejam nessa situação, já que é extremamente lucrativo para a elite branca o encarceramento, a morte e a negação de direitos da juventude. Nesta lógica, o sistema se articula para dizimar a população preta, pobre e periférica.

O POVO PRETO, POBRE E PERIFÉRICO É PRESO OU MORTO PELOS CRIMES DA CLASSE DOMINANTE, COMPOSTA NA SUA MAIORIA PELA ELITE BRANCA!

2. POLÍCIA
- Por que polícia?
Normalmente, temos em nossa mente a ideia de que a polícia existe para nos proteger e dar segurança. Será que podemos acreditar nisso? Vejamos.

As primeiras polícias no Brasil eram na verdade um grupo de homens armados, chamados de “jagunços”, que tinham a função de proteger a propriedade da elite branca escravagista, milícias que tinham fundamentalmente a função de caçar africanos escravizados.

Em 1840, quando a cultura do café passou a ser o setor mais importante da economia nacional, São Paulo, Rio de Janeiro, sul da Bahia e parte de Minas Gerais, onde a cultura do café era forte, começaram a criar guardas nacionais. É neste momento que os Estados criaram suas próprias polícias, mantendo a função de recapturar africanos escravizados e reprimir suas revoltas, rebeliões e insurreições. Observe que, desde esse momento, o caráter de repressão das forças de segurança já foi dado.

- Quando a polícia nos protege?
Essa questão tem uma resposta, simples e chocante. A função da polícia não é combater a violência e a vida, e, sim, apenas, de proteger a propriedade privada, recapturar africanos escravizados, matar e esquartejar em caso de resistência.

A função da polícia é DEFENDER a propriedade privada da CLASSE DOMINANTE, composta na sua maioria pela elite branca!

Na guerra do Paraguai, surgiu a necessidade de unificar em um só exército as diversas polícias existentes. Veja, então, que antes ela reprimia quem era do país, e depois quem estava fora dele. Ou seja, surge, no modelo de segurança, primeiro, o inimigo interno e, em seguida, o inimigo externo. Essas forças repressivas que combateram, massacraram e dizimaram o Paraguai retornaram ao Brasil e iriam constituir no início do século XX (1900) de uma vez por todas a polícia em todo país. Essa é a origem da Polícia Militar que temos hoje em dia, criada num decreto de 1970.

As antigas milícias se chamam GRUPOS DE EXTERMÍNIO. Esses grupos matam todos os dias em nossas periferias, matam porque ninguém irá questioná-los. Os hospitais aceitam com naturalidade a chegada dos corpos crivados de tiros, e o Estado não reconhece sua responsabilidade por essas vidas. As mortes não são apuradas, as famílias não são indenizadas e os responsáveis por esses homicídios não são revelados. Nossa voz continua sendo calada eternamente.

A lei é a arma da polícia e OS GRUPOS DE EXTERMÍNIO SÃO POLICIAIS SEM FARDA (justiceiros). A cidade que mais mata dentro de um dos estados que mais mata faz com que eu, você, nós todos aceitemos que noss@s jovens pret@s, pobres da periferia não estejam nas melhores universidades, nas mais destacadas vagas de trabalho e, sim, lotando gavetas no IML.

Agora dá para saber brevemente o que é a polícia na verdade? Se liga, isso é a função da policia, essa é a função do Estado. Se liga, isso que é a ordem.

A mais alta razão, a mais alta ciência, o mais alto desenvolvimento tecnológico de pouco valem numa sociedade em que não há acesso a casa, comida, trabalho, educação e saúde para todos. De que vale então todo esse “progresso”, se na verdade vivemos numa realidade primitiva, em que há pessoas para prender, pessoas para matar, pessoas para julgar, lugares para encarcerar.




sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Meu preconceito contra os brancos

Será que tenho que ser cauteloso ao discutir o racismo no Brasil com as pessoas não negras?

Por Fuca


Ao debater esse assunto temos, muito comumente, divergências relativas à identidade. O padrão branco europeu, há tempos, vem sendo disseminado em nossas vidas desde a mais tenra idade, onde tivemos também uma política de miscigenação no intuito de embranquecer a população brasileira quebrando as barreiras para inserção no mundo dos brancos. O abrasileiramento é então a chave para aceitação do povo preto, sendo assim, a busca pela branquitude é sistematicamente angariada. A experiência própria nessa questão de morder a isca dos brancos ainda me faz crer que poucos escapam e que a maioria em dado momento da vida reproduziu a branquitude. A questão da raça negra agora passa a ser travestida em raça humana, nos afirmar como pessoas pretas e identificar nossos inimigos pode para alguns se tornar uma atitude preconceituosa, ou seja, racismo inverso. Stokely Carmichael (Kwame Ture) num trecho duma entrevista disse algo sobre o branco ser vitima de preconceito:

"Eu acho que o problema é que muitas pessoas na América pensam que o racismo é uma atitude. E isso é incentivado pelo sistema capitalista. Assim, eles pensam que o que as pessoas pensam é o que os torna um racista. O racismo não é uma atitude. "Se um homem branco quer me linchar, isso é problema dele. Se ele tem o poder de me linchar, aí esse problema é meu. O racismo não é uma questão de atitude, é uma questão de poder. "O racismo obtém sua energia a partir de capitalismo. Assim, se você é antirracista você deve ser anticapitalista. O poder para o racismo, o poder para o sexismo, vem do capitalismo, e não de uma atitude. "Você não pode ser racista sem energia. Você não pode ser um machista sem energia. Mesmo os homens que espancam suas esposas obter essa energia da sociedade que lhe permite, tolera-o, encoraja-o. Não se pode ser contra o racismo, não se pode ser contra o sexismo, a menos que um é contra o capitalismo".

Se formos às ruas e perguntar se o preconceito de cor existe, provavelmente teremos algumas pessoas dizendo que sim; se perguntarmos se elas têm esse preconceito teremos um não e teremos ainda uma condenação do preconceito como algo que é prejudicial pra quem o comete, não há empatia alguma com quem o sofre. A miscigenação traz um mito da democracia racial, como se vê ou tentam nos fazer ver é que existe hoje em dia certa harmonia entre as raças, como se isso interessasse para o povo preto, essa harmonia é migalha, o combate tem que ir mais a fundo, tem que atingir o RACISMO INSTITUCIONAL.

A negação da existência do racismo é interessante para os brancos que detém privilégios, e aos que aparentemente não se encaixam como privilegiados e dizem que o racismo não existe acabam “prestando o serviço” de reproduzir e blindar os acúmulos historicamente injustos dos brancos.

Ao analisar, mesmo que superficialmente, o Brasil de 2015, o povo preto continua com seus lugares predestinados, que é viver em favelas, não se alimentar bem, não ter educação, não ter direito a saúde e trabalhar nos cargos mais precarizados na lógica de escravos. Ao analisar, mesmo que superficialmente, o Brasil de 2015, o povo preto continua com seus lugares predestinados, que são as celas lotadas do sistema carcerário, a própria rua como moradia, ou covas rasas com caixões lacrados sem direito a velório. Nos colocam goela abaixo que trabalhando duro teremos sucesso, pura mentira! Se fosse verdade teríamos que ser donos de tudo, de tudo, porque o que vemos é quem não trabalha ter as riquezas concentradas.

Num sistema capitalista a classe menos favorecida é explorada. Com as pessoas negras além da exploração que é uma mesma raça te explorando, ocorre todo o processo de colonização e de coisificação, que é uma raça (branca) exercendo o poder de dominação sobre o povo preto. É algo sim mais profundo, não se deve igualar as desigualdades sociais com as desigualdades raciais. Parece que tendemos a aceitar concessões e colocar o pé no freio, parece que tendemos a aceitar as anestesias e nos contentar com pequenos “avanços”. Em meio a toda essa falta de estrutura e toda essa negação de direitos, não me privarei do direito de ter ódio do algoz e suas características, e se o ódio contra os brancos tem que ser justificado tenho motivos de sobra para isso.

(...) “O ‘dilema racial brasileiro’ é complicado. Não tanto por desempenharem os brancos e negros os papéis que deles se esperam de disfarçar ou negar o ‘preconceito de cor’ e a discriminação de cor, mas porque o único caminho aberto à mudança da situação racial depende da prosperidade gradativa, muito lenta e irregular dos negros. Sob esse aspecto, é fora de dúvida que o preconceito e a discriminação, nas formas que assumem no Brasil, contribuem mais para manter o modelo assimétrico das relações de raça do que para eliminá-lo.” (Florestan Fernandes).

Talvez esteja provado que essa problemática secular do racismo não deve ser uma luta somente das pessoas negras devida dimensão da coisa, mas o cuidado deve prevalecer para que não sejamos mais uma vez na história pautados pela classe dominante e que possamos unir forças contra o inimigo em comum. O meu preconceito contra os brancos visa atingir seus lucros, seus privilégios e seus padrões que foram impostos. Enquanto lutarmos para escapar das dominações, lutaremos contra os brancos e todas as instituições que os servem.


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

3º Ato Contra o Genocídio do Povo Preto

Confirme presença: https://www.facebook.com/events/1542528749343910/?pnref=story

No próximo dia 25 de janeiro de 2015, domingo, o poder público, instituições de educação e cultura e a imprensa irão promover a comemoração de aniversário da maior cidade da América Latina: os 461 anos de construção de cidade de São Paulo. A festa, contudo, esconde uma verdade histórica, que é necessária denunciar, a política de genocídio em desenvolvimento.

O conceito de Genocídio significa o plano coordenado de ações objetivando a destruição dos alicerces fundamentais da vida de grupos nacionais com o fim de aniquilar uma população, segundo o judeu polonês Lemkin (1959), considerada inimigo do Estado ou da nação. Historicamente, genocídios justificaram-se sob o lema da defesa da identidade nacional, da raça, da religião, ou em razão de diferenças étnicas, políticas e sociais, como o genocídio cambojano (1975 e 1979), o genocídio em Ruanda (1994), o genocídio na Bósnia (1995), o genocídio na Guerra do Paraguai e o Holocausto Judeu (II Guerra Mundial).
E por que é possível dizer que há um genocídio no Brasil?
Não há dados nem relatos que demonstrem práticas de extermínio sistemáticas de descendentes de italianos, alemães, judeus e outros, no Brasil, por exemplo. Mas há, sim, uma realidade de constantes mortes de jovens nas periferias da cidade motivadas pelas ações da polícia (de farda ou em grupos de extermínio), e do crescente encarceramento dessa população, em razão, muitas vezes, de flagrantes forjados e da conduta arbitrária do Poder Judiciário, que decide quem é ou não é traficante.

A juventude preta, pobre e periférica é a principal vítima dos casos de homicídio do município, do Estado e do País. Chacinas e assassinatos promovidos por homens encapuzados em motos são cenas frequentes nas periferias de São Paulo. Todos os dias jovens são alvejados pela Polícia Militar em supostos confrontos sob a justificativa de combate ao tráfico de drogas.

Também outras instituições, como as de ensino superior, contribuem para promover formas de exclusão e não de garantia de direitos. Além da precariedade da vida, são a Letalidade Policial e o Encarceramento em Massa duas grandes estratégias de genocídio promovidas atualmente na cidade de São Paulo e pelos interessados em sua perpetuação.

Neste sentido, o Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica irá promover um ato no mesmo dia, para debater e denunciar tal realidade. O tema do ato é a denúncia dos ‘461 anos de genocídio’ e a comemoração dos 180 anos da revolução malê – uma importante rebelião ocorrida em janeiro de 1835, em Salvador, promovida por negros escravos ou libertos das mais variadas culturas e procedências africanas, dentre as quais haussas e nagôs, de origem islâmica. Essa revolta, contra a escravidão e a imposição do catolicismo, significou uma mudança nas formas de resistência, substituindo as estratégias de fugas, crimes contra feitores ou suicídio pela tomada do poder.

A concentração e as atividades do ato ocorrerão na praça da Sé a partir das 9h da manhã, com apresentação musical (RAP), poesias e falas de conscientização – o microfone estará aberto para quem quiser falar algo sobre o tema.


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Ato - 461 ANOS DE GENOCÍDIO DO POVO PRETO, POBRE E PERIFÉRICO‏


No dia 25 de janeiro de 2015, aniversário da Cidade de São Paulo, acontecerá o 3º ato contra o genocídio do povo preto: 461 anos de genocídio, que será realizado na praça da sé em frente a Catedral. O ato começara a partir da 9 horas com panfletagem na missa e imediações, e logo após teremos diversas apresentações de Rap e microfone aberto para falas, poesias e demais manifestações. Essa é a terceira edição deste ato que ocorre desde 2013 e é organizado pelo Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica.

O aniversário da Cidade de São Paulo é o aniversário de uma estratégia genocida. Nada menos do que um dia para se celebrar a fundação de um colégio jesuíta que se justificava para aculturar os povos nativos. Ocorre que tal estratégia se volta para o povo preto de maneira diferente, não aculturar para incorporar, mas para destruir. Do projeto descrito por Abdias que preconizava aculturação por imposição da cultura eurocêntrica e extermínio físico via miscigenação convivemos hoje com uma etapa superior do processo, manutenção da não identidade de povo. A ideologia da democracia racial permitindo o sucesso de uma programação racista transversal nos induz a naturalização de todos os privilégios (branquitude) e de toda auto-negação (embranquecimento) a qual somos vítimas. A cidade que mais mata em um estado que concentra mais de 10% de todas as mortes do país, que mais prende em um estado que concentra quase 50% de todo o sistema carcerário, que mais vê passivelmente pessoas em condição de miserabilidade aumentar mais do que em todo país nos últimos dois anos certamente é também uma das Cidades que mais oprime a Juventude Preta, Pobre e Periférica.

180 Anos da Insurreição Malê!

Contamos com sua presença!

FIM DAS POLÍCIAS!


FIM DOS PRESÍDIOS!


sábado, 22 de novembro de 2014

Insurreição CGPP - Voz de Mãe


Letra
Meu nome é Maria eis aqui minha palavra
meu corpo agora treme e meu coração trava
Peço por favor não repare se eu chorar
Lágrima vem pesada é difícil segurar
Quem tava no meu colo e dormia do meu lado
Hoje vi dormindo cheio de furo e costurado
com um ente assinei o caixão pra sepultar
e já me perguntou como eu iria lhe pagar. 
momento tão difícil eu me sinto mais sozinha
Não consegui vencer sendo ajudante de cozinha
Pra ver meu único filho aos 15 anos morto
Devia seguir o safado que decretou o seu aborto
Não o vi jogando bola, nem fui na sua reunião
estava servindo mesa ouvindo merda do patrão
Na fila do busão uma mãe negra que chora
as 04:15 da manhã os passageiro me consola

(refrão) Quero o meu filho de volta
Me ajude
Quero o meu filho de volta
Me escute
Quero o meu filho de volta
Mas não volta, ele foi julgado e morto pela rota

é só quem é mãe sabe mesmo como dói
não o verme que matou meu filho, faz quadrinho de herói
que na delegacia me viu sem rumo, deu risada
ah como eu queria matar o porco na facada
minha vida vale menos é o que tá comprovado
vejo tanta gente mas ninguém tá do meu lado
vieram me falar que deus ele é fiel
mas queriam que eu doasse o dinheiro do aluguel
Olho seu lado da cama me bate um desespero
o sonho não existe a vida é o pesadelo
abraço o travesseiro e fico a pensar
não pude dá o melhor e ele foi roubar
Momento desgostoso a saudade mais aperta
na euforia da noticia no cidade alerta
Tô ficando louca o que fizeram com minha vida
o patrão me viu chorando e hoje eu fui demitida.

(refrão) Quero o meu filho de volta
Me ajude
Quero o meu filho de volta
Me escute
Quero o meu filho de volta

Mas não volta ele foi julgado e morto pela rota


sábado, 1 de novembro de 2014

Malcolm X - Mensagem a Grassroots (mensagem as bases) - parte1

Este discurso de Malcolm X foi feito em 10 de Novembro de 1963, em Detroit. Pouco depois, Malcolm se separou da Nação do Islã.




... E durante os poucos momentos que nos resta, queremos ter apenas um bate-papo, sem algo preparado, entre você e eu - nós. Queremos falar direto para a terra numa linguagem que todos aqui poderão facilmente compreender. Estamos todos de acordo esta noite, todos os oradores concordam, que a América tem um problema muito sério. Não apenas a América tem um problema muito sério, mas o nosso povo tem um problema muito sério. Somos nós o problema norte americano. Nós somos o problema. A única razão pela qual esse país tem um problema é que ele não nos quer aqui. E cada vez que você olhar para si mesmo, seja você preto, marrom, vermelho ou amarelo – ou um chamado *Negro (negro/nigger) - Você representa uma pessoa que é um problema tão grave para a América, porque eles não querem você. Enfrente isso como um fato, então você pode começar a traçar um caminho que fará você parecer inteligente, em vez de pouco inteligente. 

O que você e eu precisamos fazer é aprendermos a esquecer de nossas diferenças. Quando nos reunimos, não estamos a nos juntar como batistas ou metodistas. Você não irá para o inferno por ser um batista, e você não irá para o inferno porque é metodista. Você não irá para o inferno por ser batista ou metodista. Você não irá para o inferno por ser democrata ou republicano. Você não irá para o inferno por ser um maçom ou um alce, e certamente você não irá para o inferno porque é americano; porque se você é americano, você não irá para o inferno. Você vai para o inferno porque você é uma pessoa negra. Você vai para o inferno, todos nós vamos para o inferno, por essa mesma razão.

Então, todos nós somos negros (Black people), chamados negros (Negroes), cidadãos de segunda classe, os ex-escravos. Você não passa de um ex-escravo. Você não gosta de ser chamado assim, mas o que mais vocês são? Vocês são ex-escravos. Vocês não vieram aqui no **"Mayflower". Vocês vieram pra cá em um navio de escravos - em cadeias, como um cavalo ou uma vaca ou uma galinha. E vocês foram trazidos aqui por pessoas que vieram aqui pelo "Mayflower". Vocês foram trazidos pelos assim chamados Peregrinos, ou ***fundadores . Eles foram os únicos que lhe trouxeram pra cá.

Temos um inimigo em comum. Temos isso em comum: Temos um opressor em comum, um explorador em comum, e um discriminador em comum. E uma vez que nós todos percebemos que temos este inimigo, então nos unimos na base do que temos em comum. E o que temos de principal em comum é o inimigo - o homem branco. Ele é um inimigo de nós todos. Sei que alguns de vocês pensam que alguns deles não são inimigos. O tempo vai dizer.

Em Bandung, voltando se não me engano em 1954, foi a primeira unidade em séculos de pessoas negras se reunindo. E uma vez que você estudar o que aconteceu na conferência de Bandung, e os resultados da Conferência de Bandung, na verdade serve de modelo para que nós usemos o mesmo procedimento para ter os nossos problemas resolvidos. Em Bandung todas as nações se uniram, eram nações escuras da África e da Ásia, algumas delas eram budistas, algumas delas eram muçulmanas, algumas delas eram cristãs, alguns delas eram confucionistas, algumas eram nações ateias. Apesar de suas diferenças religiosas, elas vieram juntas. Algumas eram comunistas, algumas eram socialistas, algumas eram capitalistas. Apesar de suas diferenças políticas e econômicas, vieram juntas. Todas elas eram preta, marrom, vermelha ou amarela.

O único que não foi autorizado a participar da conferência de Bandung foi o homem branco, ele não pôde ir. Uma vez que excluiu o homem branco, eles descobriram que eles poderiam ficar juntos, uma vez que o manteve de fora, todo mundo seguiu na mesma linha. Esta é a coisa que temos que entender, e essas pessoas que estavam juntas não tinham armas nucleares; elas não tinham aviões a jato; elas não tinham todos os armamentos pesados ​​que o homem branco tem, mas elas tinham a unidade.

Eles foram capazes de submergir suas pequenas diferenças e concordaram em uma coisa: que o Africano do Quênia estava sendo colonizado pelos ingleses, que o Africano do Congo estava sendo colonizado pelo belga, que o Africano de Guiné estava sendo colonizado pelos franceses, que o de Angola estava sendo colonizado pelo Português. Quando eles vieram para a conferência de Bandung, eles olharam pro português, pro francês, pro inglês, pro holandês, e aprenderam ou perceberam que a única coisa que todos eles tinham em comum: todos eles eram da Europa, eles eram todos europeus, loiros, de olhos azuis e pele branca. Eles começaram a reconhecer quem era o inimigo. O mesmo homem que foi colonizar nossas pessoas no Quênia foi colonizar nossas pessoas no Congo. O mesmo do Congo estava colonizando o nosso povo na África do Sul, na Rodésia do Sul, na Birmânia, na Índia, no Afeganistão, no Paquistão. Eles perceberam que em todo o mundo as pessoas negras estavam sendo oprimidas, elas estavam sendo oprimidas pelo homem branco; onde as pessoas negras estavam sendo exploradas, estava sendo exploradas pelo homem branco. Então se reuniram sob esse critério - que tinham um inimigo comum.

E quando você e eu aqui em Detroit ou em Michigan e na América, que foram despertados e olhar à nossa volta hoje, também percebemos que aqui na América todos nós temos um inimigo em comum, quer seja na Geórgia ou Michigan, na Califórnia ou em Nova York. Ele é o mesmo homem: olhos azuis, cabelos loiros e pele clara - mesmo homem. Então o que temos a fazer é o que eles fizeram, eles concordaram em parar de brigar entre si, qualquer pequena briga que eles tinham, eles resolviam entre si - não deixe que o inimigo tome conhecimento que você tem um desentendimento.

Em vez de expor nossas diferenças em público, temos de perceber que somos todos da mesma família e quando você tem uma briga entre família, você não sai na calçada. Se você fizer isso, todo mundo te chama rude, bruto, incivilizado, selvagem. Se você fizer isso em casa e resolver em casa; você tem no armário e discute por trás de portas fechadas. E então, quando você sai na rua, você expõe uma frente comum, uma frente unida. E é isso que precisamos fazer na comunidade, na cidade e no estado. Precisamos parar de expor nossas diferenças em frente ao homem branco. Número um, deixe o homem branco fora de nossas reuniões e, em seguida, sentar e conversar sobre os planos e trabalhos. Isso é o que temos que fazer.



*As 'Negro People' são diferentes das 'Black People', pois basicamente não possuem consciência de raça e estão do lado e a serviço dos brancos.( ele explicará mais detalhadamente no decorrer do discurso)

** (termos históricos) o navio Mayflower em que os Pilgrim Fathers partiu de Plymouth para Massachusetts em 1620)

***(Convenção que redigiu a Constituição dos EUA em 1787)