quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Burkina Faso: Mensagem do Presidente à Nação, Capitão Ibrahim Traoré. (Virada de Ano 2024/2025)

[Esta é a mensagem à Nação de SE Capitão Ibrahim TRAORÉ, Presidente de Faso, Chefe de Estado de 31 de dezembro de 2024.]

Presidente Ibrahim Traoré - 2024/2025

É um imenso prazer, neste dia, 31 de dezembro, que marca o final do ano de 2024, falar e conceder a vocês um resumo do ano de 2024 e também das perspectivas para o ano de 2025.

Mas antes de mais nada, permitam-me agradecer a Deus que cobre Burkina Faso com a sua mão benevolente e que nos permite permanecer de pé.

Presto vibrante homenagem a todas as nossas forças combatentes que lutam dia e noite, com o sacrifício supremo, para que nossa Pátria permaneça erguida.

Desejo uma rápida recuperação a todos os feridos nesta barbárie e rogo a Deus pelo repouso das almas de todos os que tombaram nesta batalha.

Gostaria também de prestar homenagem ao valente povo de Burkina Faso, daqui e de fora, que continua a contribuir maciçamente para que possamos travar esta guerra e também iniciar o nosso verdadeiro desenvolvimento.

2024 foi um ano cheio de desafios. No campo de batalha, o inimigo tentou recuperar a iniciativa estratégica para nos impedir de alcançar os nossos objetivos.

Graças às nossas valentes e resilientes forças de combate, conseguimos manter o rumo e manter sempre a iniciativa. Hoje, mais do que nunca, realizamos ofensivas e vamos onde desejamos para realizar ações; e rastreamos esses criminosos até seu último entrincheiramento. Isto foi possível graças a uma dinâmica que começou em 2023 e que continua.

Isto diz respeito em particular ao aprimoramento das nossas forças de combate com meios logísticos, meios de manobra e meios de fogo. E continuaremos a aumentá-las ao longo de 2025, para que o exército com que sonhamos possa ser uma realidade e possa proteger a nossa Pátria durante anos, décadas vindouras. Continuaremos a recrutar como ocorreu em 2024.

Só para este ano, recrutamos para as Forças Armadas Nacionais mais de 15.000 homens que ainda estão a treinar nos centros e que deverão reforçar as fileiras das forças combatentes durante o ano de 2025. Também continuaremos a treinar intensamente em colaboração com todos os amigos do Burkina Faso, para que possamos ter o exército que queremos.

Em termos de cobertura territorial, surgiram diversas unidades com um exército que é a Brigada Especial e de Intervenção Rápida; e continuaremos a reforçar as capacidades de todas as forças armadas para fazer face à ameaça atual e às ameaças futuras.

Neste sentido, haverá a criação durante o ano de 2025 de pelo menos cinco batalhões de intervenção rápida que serão colocados em áreas estratégicas. Ao nível do exército, criaremos um grupo expedicionário do Sahel. Tudo isto com o objetivo de poder adensar os campos de batalha para reconquistar todo o nosso território. Ao nível das forças de segurança, o reajustamento continuará de forma estratégica; e esperamos que estas forças possam se adaptar de forma inteligente e com grande flexibilidade à reconquista do território para poderem preencher as lacunas e corredores que podem ser utilizados por estes criminosos para se infiltrarem.

Continuaremos os esforços neste sentido com o apoio do povo para atualizar todas as nossas forças de combate, a fim de unir e reconquistar todo o nosso território. E para isso, a infraestrutura rodoviária é muito importante para apoiar a reconquista do território. Durante o ano de 2024, vários projetos foram de fato executados, nomeadamente ao nível da construção de estradas nas nossas cidades e no nosso campo.

Neste sentido, foi criada a iniciativa “Faso Mêbo” que acabará por dotar cada região de uma brigada de construção rodoviária. Os equipamentos das primeiras brigadas já estão a caminho e dentro de poucos dias estarão operacionais e deverão começar a agir para a felicidade das nossas forças combatentes no âmbito da sua mobilidade nos campos de batalha; e também disponibilizar certas áreas que não possuem boas estradas para que possam se comunicar.

Quem fala de estradas também fala do escoamento dos nossos produtos. Neste sentido, intensificamos, em termos agrícolas, a nossa produção neste ano de 2024. Os resultados são muito satisfatórios e damos graças a Deus que nos permitiu ter chuvas muito boas em todo o território nacional. A produção foi excepcional e continuaremos nessa direção.

Várias ideias foram introduzidas; sugestões de rendas como cacau, café, abacate, trigo e muitas outras que tornarão possível interromper mais ou menos as importações para Burkina Faso e também transformar essas matérias-primas, ou mesmo revendê-las no exterior para trazer moeda estrangeira ao nosso país. Tudo isto contribui para o desenvolvimento da nossa Pátria que estamos em vias de iniciar.

Na área da pecuária, foram realizados vários projetos durante o ano de 2024, nomeadamente a renovação da pecuária através de diversas iniciativas; mas também estamos em processo de criação de um sistema de alimentação de gado e peixes.

Várias campanhas de vacinação foram realizadas, gratuitas em alguns locais e subsidiadas em outros. Continuaremos os nossos esforços em favor do mundo camponês através de insumos e de toda a mecanização que se segue para apoiá-los na produção com vista a alcançar o nosso objetivo que é a autossuficiência alimentar e a exportação dos nossos excedentes. Nesse sentido, muitas indústrias surgirão para transformar nossas matérias-primas no local.

2024 foi um ano em que conseguimos inaugurar algumas fábricas, mas muitas mais serão inauguradas em 2025; algumas das quais vocês testemunharam o lançamento, mas outras também cujo lançamento não foi comunicado. Continuaremos nesta direção para podermos transformar as nossas matérias-primas no local para a felicidade do povo burquinense e exportar o que é processado no local. É com isto em mente que poderemos movimentar internamente a nossa economia e evitar importações de produtos alimentares em benefício dos produtos de nossas populações.

Do lado econômico, foram feitos muitos esforços e este é o lugar para felicitar todos os intervenientes que permitiram ao Burkina Faso manter sempre a cabeça erguida face às adversidades. Continuaremos os nossos esforços e muitos fundos foram reajustados para ter em conta as aspirações dos jovens. A Agência Nacional de Financiamento Inclusivo foi recentemente criada e o objetivo é oferecer empréstimos aos jovens e poder monitorizar as suas atividades.

O Ministério responsável pela Juventude foi instruído a criar unidades que farão o acompanhamento dos projetos que os jovens irão realizar e que poderão ser financiados através destas instituições que criamos.

Durante o primeiro trimestre de 2025, de tudo faremos para acelerar a implantação destas unidades porque não se trata apenas de conceder um empréstimo a um jovem e deixá-lo entregue à sua própria sorte. Queremos conceder o empréstimo e monitorizar a execução do projeto para o qual ele tomou o empréstimo, para o seu próprio benefício e o de outros burquinenses, assim como criar empregos. Continuaremos os nossos esforços no setor econômico e comercial para que a nossa juventude possa florescer plenamente com os recursos do país.

Na área da mineração, recuperamos o controle dos nossos recursos naturais. Metais como o ouro, a prata, o cobre devem ser explorados pelos burquinenses e estamos gradualmente a descobrir a experiência nacional que permite explorar estes recursos no local, para a felicidade do povo Burkinabè/burkinense.

Assim, incentivamos o surgimento de minas semimecanizadas e, muito em breve, industriais por meio da ação dos Burkinenses para Burkina Faso. O Estado está a fazer tudo o que pode para explorar esta expertise local em benefício da nossa Pátria.

Na área ambiental, vários projetos verão a luz do dia. Esperamos criar um bosque em cada província que contenha plantas e ervas medicinais que possam ser utilizadas pelos praticantes tradicionais e até pelos nossos pesquisadores. O Instituto de Pesquisa em Ciências da Saúde tem comprovado sucesso utilizando nossas plantas locais. Dei instruções para poder listar todos os equipamentos que este instituto necessita para aumentar a sua capacidade e explorar o nosso potencial em termos de plantas e ervas e então complementar certos medicamentos importados.

Continuaremos nessa direção para que possamos nos curar através de nossas plantas. O Ministério responsável pelo Meio Ambiente está fazendo todo o possível para garantir que este projeto veja a luz do dia em 2025. Outros projetos de grande escala em termos de reflorestamento e plantação de árvores através de instituições e todas as estruturas que podem ser designadas verão a luz do dia para que possamos tornar mais verde o nosso ambiente de vida, cuidar dele para que beneficie plenamente Burkina Faso. Isto melhorará consideravelmente a situação sanitária.

Estamos a fazer um grande esforço para que as plataformas técnicas dos vários centros de saúde e hospitais possam ser melhoradas. As atribuições ocorreram em 2024, nomeadamente ao nível de equipamentos médicos. Em 2025 assistiremos a um novo fornecimento de equipamento médico e especialmente de centros de saúde através da Iniciativa Presidencial de Saúde.

Serão construídas infraestruturas de saúde em vários municípios, porque queremos transformar os nossos centros de saúde e de promoção social em centros municipais que deverão ter plataformas técnicas suficientemente dotadas, em laboratórios, em imagem, para se aproximarem dos padrões dos centros médicos com unidades cirúrgicas. O objetivo é aproximar os cuidados de saúde primários das populações rurais e facilitar uma série de coisas nesta área.

No que diz respeito ao setor da educação, foram iniciadas diversas reformas. Podem parecer lentas para alguns, mas temos de avançar lenta e seguramente porque o sistema educativo em que nos encontramos está profundamente centrado num modelo que produz mais licenciados do que pessoas capazes de trabalhar e produzir riqueza. Infelizmente, esta é a observação. Mas estamos a trabalhar arduamente para, em primeiro lugar, mudar a infraestrutura escolar, adaptá-la e modernizá-la. Então, o currículo e os programas de ensino devem ser alterados. Queremos passar do ensino geral para o ensino técnico e profissional.

Essa mudança está em andamento e demorará um pouco para que possamos atingir o padrão que desejamos. Todos os setores da área da educação serão visitados e é por isso que a Iniciativa Presidencial para uma educação de qualidade para todos foi lançada e já foram iniciados os primeiros centros modernos que queremos e a construção continuará ao longo de 2025.

Camaradas,

No campo da administração, como vocês presenciaram o último julgamento sobre desvio de recursos em nossa administração, isso mostra o quanto nossa administração não está alinhada com os anseios do momento.

Além disso, os procedimentos estão obsoletos; é por isso que muitas medidas estão a ser tomadas para garantir que esta administração volte a funcionar como desejado. A CRD (Comissão de Regulação de Disfunções) foi criada pensando nisso e vamos trabalhar para que durante o mês de Janeiro esteja operacional e que os cidadãos possam denunciar casos de abusos, violações e disfunções na nossa administração. Continuaremos nesta lógica de retificar mas também de reforçar a digitalização na administração para combater eficazmente a corrupção; porque, enquanto os procedimentos não forem desmaterializados, os tempos de processamento dos arquivos serão sempre longos e surgirá corrupção.

A função pública é, portanto, instruída a alterar o RIME (Diretório Interministerial das Profissões do Estado) para poder integrar um determinado número de empregos para que determinadas pessoas que estavam sob contrato na administração possam ser efetivamente integradas e ter um plano de carreira. Continuaremos as reformas nesta área até que a nossa administração seja o que o povo quer.

No domínio da justiça, muitas reformas já ocorreram e continuaremos em 2025. Os tribunais consuetudinários terão de surgir e nestes tribunais consuetudinários serão, portanto, recrutados auditores de justiça de um novo tipo para gerir estes tribunais consuetudinários; isto é para ter em conta os nossos valores endógenos de resolução de conflitos e para ter uma justiça restaurativa e não uma justiça puramente punitiva.

Tendo em conta os nossos valores endógenos e envolvendo os nossos líderes consuetudinários e religiosos nos valores que são nossos, poderemos transformar a nossa justiça, aproximando-a do litigante. Estas reformas continuarão ao longo de 2025 e esperamos conseguir atingir o nosso objetivo antes do final do ano.

Na área da administração territorial, tal como anunciou o Primeiro-Ministro durante a sua Declaração de Política Geral, é necessária uma redistribuição do território; tendo em conta um certo número de aspectos, a superfície certamente, mas sobretudo estratégica e econômica. Isto será proposto em 2025. A descentralização é atualmente uma coisa muito boa em substância, mas na implementação está a sofrer.

Atualmente está sendo realizado um estudo ao nível da ANSAL-BF (Academia Nacional de Ciências, Artes e Letras de Burkina Faso) e CAPES (Centro de Análise de Políticas Econômicas e Sociais). O estudo, cujos resultados são esperados hoje, deverá permitir fazer um diagnóstico aprofundado do processo de descentralização. Neste sentido, um certo número de fundos foram suspensos enquanto se aguardam os resultados destes estudos para podermos rearticular e atribuir novas missões às autoridades das autarquias locais.

Na área da urbanização, durante o ano de 2025, após um estudo realizado em 2024, serão oferecidas à população burquinense opções para redesenhar as nossas cidades. Quando estas escolhas forem apresentadas, esperamos ter um resultado que nos permita redefinir as nossas cidades e sermos capazes de realizar uma urbanização que cumpra os padrões atuais. Esta dinâmica continuará em 2025 e a iniciativa “Faso Mêbo” também participará nesta dinâmica de urbanização. 

No domínio do desporto, este é o lugar para felicitar todos os jovens desportistas porque 2024 foi um ano desportivo. Vários atletas regressaram ao Burkina Faso com medalhas e carregaram a bandeira de Burkina Faso levantando alto. Felicito-os e encorajo-os a continuar nesta dinâmica para que em 2025 tenhamos ainda mais medalhas e a bandeira de Burkina Faso continue a tremular em todo o mundo. Ajudam a promover a imagem de Burkina Faso no estrangeiro.

No campo da diplomacia há certamente apoio da comunidade desportiva. Mas os nossos diplomatas têm estado envolvidos numa dinâmica agressiva desde 2023. Continuaremos nesta direção em 2025 para que a imagem do Burkina Faso, que brilha em todo o mundo, possa continuar a brilhar. E através disto, estamos numa confederação da Aliança dos Estados do Sahel. Estão atualmente em curso diversas ações para podermos estruturar esta aliança e estabelecê-la porque é o início de uma união soberana, em total liberdade, para que África possa tirar o exemplo desta aliança e poder brilhar.

A aliança não é apenas para os três países. A aliança pertence a todos os africanos que desejam soberania, independência e liberdade total. Continuamos a nossa abordagem para que seja uma união forte em todas as áreas, seja diplomacia, defesa e segurança e especialmente desenvolvimento. A nossa diplomacia brilha e continuaremos a nossa abordagem para que seja ainda mais forte e para que as representações de Burkina Faso no estrangeiro possam ter em conta a nossa diáspora e também ter em conta todos os amigos de Burkina Faso que desejam visitar Burkina Faso, e então participar no desenvolvimento do país.

É neste sentido que seremos um exemplo de soberania, um exemplo de dignidade e um motivo de orgulho em toda a África e em todo o mundo. O Instituto dos Povos Pretos deve ser um trampolim para atrair a Burkina Faso todos os pretos de todo o mundo que virão para recarregar as baterias, rever culturas e poder aprender com as nossas culturas, modernizá-las para desenvolver a nossa pátria. No museu será erguido um edifício para ter em conta certos aspectos da nossa cultura para que o instituto possa basear-se nestes valores e ensinar ao mundo inteiro quem o povo preto é, e quem a África é.

Desejo que 2025 seja um ano de perfeita saúde, sucesso, prosperidade, vitória para o nosso povo.

Pátria ou Morte, vamos vencer!


Capitão Ibrahim Traoré

Presidente da Faso

Chefe de Estado

https://burkina24.com/2024/12/31/burkina-faso-message-a-la-nation-du-president-le-capitaine-ibrahim-traore/


segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Estamos testemunhando o colapso da arquitetura neocolonial na França diz Alex Anfruns

Estamos testemunhando o colapso da arquitetura neocolonial na França diz Alex Anfruns

20 min de leitura (05/2024)

por Pascual Serrano

[Pascual Serrano (Entrevistador) é jornalista e escritor. ]

Fonte:https://globalter.com/en/alex-anfruns-we-are-witnessing-the-collapse-of-neocolonial-architecture-in-france/ 

Nos últimos anos, três países da África Ocidental, na região do Sahel, vivenciaram golpes de estado com um denominador comum: a revolta nacional e soberana contra a França, sua antiga metrópole, ainda dominante na economia, defesa e relações internacionais. Trata-se de Mali, Burkina Faso e Níger. Lá, líderes militares derrubaram governantes fantoches da França e estabeleceram governos provisórios, mas iniciaram processos de soberania forçados que provocaram indignação, sanções e ameaças de intervenção militar de potências ocidentais.

No Mali, um grupo de jovens soldados proclama uma revolta em agosto de 2020 e estabelece um governo de transição que questiona a presença de forças francesas no país. Vários descumprimentos nessa transição levaram a um novo golpe em maio de 2021, liderado pelo até então vice-presidente Assimi Goita. Em 21 de fevereiro de 2022, a carta de transição foi alterada para estender a duração da transição por um período indefinido de até cinco anos. Enquanto isso, o órgão legislativo que substitui a anterior Assembleia Nacional é o Conselho Nacional de Transição do Mali, onde diferentes representantes militares e da sociedade civil se reúnem.

Em Burkina Faso, o jovem capitão Ibrahim Traoré assume o poder interinamente em 6 de outubro de 2022, após substituir outro soldado, Paul-Henri Sandaogo Damiba, que se tornou presidente em janeiro do mesmo ano. Traoré participou daquele golpe de janeiro que derrubou o governo pró-francês, mas depois destituiu Damiba por considerá-lo incapaz de enfrentar o terrorismo jihadista. Em fevereiro de 2023, o governo de Traoré expulsou as forças francesas de Burkina Faso.

O último golpe de estado foi o do Níger, em 23 de julho de 2023, quando o presidente Mohamed Bazoum, próximo aos interesses franceses, foi deposto. Soldados da Guarda Presidencial tomaram o poder, o Brigadeiro-General Abdourahamane Tchiani foi proclamado chefe de estado e presidente do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria. Um mês após chegar ao poder, a junta militar do Níger expulsou os embaixadores da França, dos Estados Unidos e da Alemanha de uma só vez. Burkina Faso e Mali apoiaram o governo do Níger e suas medidas contra a França.

Não é fácil obter informações rigorosas no Ocidente que estejam livres dos interesses das potências europeias nesses eventos. Daí o valor de Alex Anfruns Millán ao escrever o livro "Níger: outro golpe de estado... ou a revolução pan-africana?". Embora nascido na Catalunha, Anfruns vive entre a França e a África francófona, as duas regiões protagonistas das revoluções no Sahel. Durante quatro anos, publicou mensalmente o Journal de l'Afrique e traduziu e escreveu sobre as guerras e tentativas de golpe no Mali, Síria, Venezuela e Nicarágua, especializando-se em África e América Latina. Atualmente é professor em Casablanca e pesquisa o direito ao desenvolvimento a partir de uma perspectiva histórica ‘pan-africana’.

Conversamos com Alex Anfruns sobre seu livro e os eventos na região durante sua estadia em Barcelona:

Pergunta: Em julho de 2023, um grupo de soldados derrubou o Governo do Níger e estabeleceu um governo de transição. O que você acha que esse golpe significa para o país e a região?

Em 26 de julho de 2023, um grupo de militares bem conhecidos que fazem parte da Guarda Presidencial do Níger assume o poder. Essa data é o ápice de um processo de soberania regional que já começou em 2020 em um golpe de estado no Mali, que então teve outro golpe em 2021, e em 2022 em Burkina Faso também.

Ou seja, no espaço de cerca de 3 anos, temos uma série de golpes de estado militares que contradizem a visão dominante que afirma que o lugar onde o Exército deve estar é no quartel, e que ele não precisa se envolver na vida política. No caso desses países africanos no Sahel, na África Ocidental, o que acontece é que eles reagem a uma conscientização progressiva entre o povo. Muitos povos africanos, milhões de pessoas, têm se mobilizado por uma série de razões históricas. Por exemplo, no caso do Mali, após a guerra da Líbia em 2011, ocorre outra guerra, o papel da intervenção francesa na região e a desestabilização da Líbia pela OTAN é importante.

Nos últimos anos, houve um renascimento de um sentimento de dignidade e luta pela soberania entre a população, particularmente no Mali. Quando a rejeição da presença de tropas francesas no território começou, eles conseguiram expulsá-las e, então, progressivamente também em Burkina Faso e Níger. É todo um processo regional em que os militares intervêm no Níger por várias razões.

P: A luta contra o terrorismo é um dos elementos em que a presença militar estrangeira se justifica

De fato, uma delas é a luta efetiva contra o terrorismo. Você tem que saber que o Mali tem o que é conhecido como a tríplice fronteira, a região de Liptako-Gourma, onde todos os grupos terroristas circulam de um território para outro. Acontece que há mais de dez anos há domínio militar estrangeiro nesses países, especialmente a França. E um dos pretextos para essa presença foi a luta contra o terrorismo. As pessoas começaram a se perguntar como pode ser que uma presença de mais de uma década no terreno de milhares de tropas estrangeiras, com a tecnologia mais avançada dos exércitos ocidentais e com um orçamento de defesa impressionante, não consiga combater ou neutralizar esses grupos terroristas que se multiplicam ao longo dos anos.

Então, dois países, que rejeitam a presença militar estrangeira e que têm suas próprias forças militares, se rebelam e depois se juntam ao Níger. Então, tudo é uma mudança de perspectiva. Considero o golpe no Níger o ápice desse processo. Eles observam que houve conivência, ou pelo menos aceitação, por parte da França desses grupos terroristas islâmicos, porque eles não conseguiram erradicá-los.

As pessoas pensam que o terrorismo era um álibi ou uma desculpa simplesmente para justificar a presença militar estrangeira, mas então eles não erradicaram esses grupos terroristas. Isso faz parte do discurso do povo africano. Se ouvirmos os líderes do Mali, Burkina Faso e agora Níger, o discurso é que a fonte do terrorismo é ocidental.

Podemos concordar ou não, agora o que se trata é de buscar as informações, os elementos que nos permitam saber se o que eles estão dizendo corresponde à realidade ou é uma fantasia. Eu, no meu livro “Níger: outro golpe de estado… ou a revolução pan-africana?”, forneço alguns elementos, algumas citações para entender o contexto. Por exemplo, o Chefe do Estado-Maior do Exército Francês, que estava no comando das tropas francesas no Mali, disse que sua presença no país deveria ser de pelo menos 30 anos. Ninguém pode acreditar que o exército francês precise de três décadas para eliminar os grupos terroristas africanos.

Por outro lado, os responsáveis ​​pelo exército francês deram legitimidade aos grupos tuaregues como atores políticos que exigem uma independência que implica uma partição territorial do Mali, até mesmo a mídia francesa coleta as declarações de seus porta-vozes. Mas todos no Sahel sabem da relação próxima entre esses tuaregues e grupos terroristas.

P: Várias análises da região abordam o papel da CEDEAO/ECOWAS, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental. Você pode explicar?

A CEDEAO é um grupo regional de quinze países da África Ocidental fundado em 1975 cuja missão era promover a integração econômica da região. Era um projeto de desenvolvimento econômico, mas o problema é que, nos últimos anos, tornou-se uma ferramenta de interferência nas mãos da França. A França usa os aliados que tem na região, como Ouattara [Alassane Ouattara, presidente da Costa do Marfim] ou também o presidente Macky Sall, que recentemente saiu pela porta dos fundos no Senegal. Esses atores são acompanhados por Bola Tinubu, que está na Nigéria. São atores que se colocaram a serviço dos interesses franceses, e a CEDEAO se revelou nos casos do Mali, assim como de Burkina Faso e Níger, como uma ferramenta para exercer uma política de sanções. Essas sanções causaram sofrimento em populações com uma pobreza extrema incrível, e é então que se vê claramente que a CEDEAO não se importa com o sofrimento da população.

Eles são submetidos a um bloqueio de todos os tipos, de modo que a população não tem acesso à eletricidade, medicamentos e alimentos. Vê-se que esta associação não cumpre mais a função para a qual foi criada e estes três países tomam a decisão histórica no final de janeiro de uma saída definitiva e irreversível da CEDEAO. Então, a arquitetura neocolonial da França está sendo um pouco desmantelada.

No caso da CEDEAO, tem sido um ator cujo peso está agora em declínio. Ele provavelmente vai desaparecer, não sei. 

P: Você mencionou algo antes, mas eu gostaria que você explicasse um pouco mais sobre como a intervenção da OTAN na Líbia afetou a região.

A guerra no Mali já tem como origem a desestabilização na Líbia. Na verdade, tem sido uma lição que o povo e os líderes africanos aprenderam, porque perceberam seu erro histórico em não se opor de forma clara e frontal, e em não proteger Gaddafi, que também tinha uma visão pan-africana. Quer os políticos europeus e a opinião pública ocidental na mídia hegemônica gostem ou não, a Líbia de Gaddafi é percebida, incluindo seu legado, como uma contribuição histórica ao pan-africanismo.

Foi tão influente que, apesar da Líbia estar localizada no Norte da África, em dois pontos da história recente do Níger houve dois golpes de estado relacionados à Líbia. Um foi logo após o presidente do Níger estabelecer relações com a Líbia de Gaddafi, no caso de Hamani Diori, que sofreu um golpe em 1974. Poucos meses antes, ele havia feito um acordo de defesa com a Líbia. E no caso de Mamadou Tandja [presidente do Níger derrubado em 2010 por um golpe de estado], uma das razões pelas quais ele foi deposto foi porque ele se opôs claramente aos interesses da França e estabeleceu relações com a China, com o Irã, com a Venezuela e também acolheu Gaddafi.

Portanto, a guerra da OTAN na Líbia é percebida hoje como algo que não deve ser repetido e explica o fato de que a agressão imperialista agora está interrompida no Níger ao ver como a França concretizou seus planos de assassinar um líder como Gaddafi.

Essa mesma França que também ocupou grande parte do território do Mali e que não permitiu que o Exército Malinês resolvesse seus problemas de terrorismo, porque impediu que seu próprio Exército Nacional acessasse seu território, porque estava sob controle militar francês.

No caso do Níger, a estratégia imperialista francesa é interrompida e isso tem um significado histórico. Na minha opinião, isso tem uma carga simbólica muito forte, algo como a batalha de Dien Bien Phu na guerra entre a Indochina e a França. Ou seja, há uma consciência de que aquele momento em que o Vietnã derrotou o Exército Francês em 1954 está se repetindo. Estamos no 70º aniversário.

Então, criou-se a consciência no povo africano de que a derrota do homem europeu, o homem branco, era possível e a partir daí começou um movimento anticolonial que foi muito reforçado. Por exemplo, a FLN foi criada na Argélia e deu um impulso muito forte. Ou seja, em um nível simbólico, o Níger é importante por causa da esperança que também dá ao povo africano de ver que é possível derrotar essas ameaças de guerra e essas políticas de sanções.

P: E não há a possibilidade de que esses novos governos e movimentos, afastando-se da França, possam se aproximar dos Estados Unidos e acabar caindo em outro imperialismo?

Essa é uma das hipóteses. Na verdade, os Estados Unidos, quando ocorreu o golpe de estado no Níger, tinham uma posição pragmática e aceitaram. Não é um imperialismo tão desajeitado quanto o da França e tenta um pouco, digamos, não se opor muito a ele. Eles defendem claramente o regime derrubado, mas o fazem com um perfil discreto.

Eu destaco no meu livro sobre o Níger a possibilidade de que os Estados Unidos tentem recuperar essa dinâmica, mas os eventos estão mostrando que no Níger há uma visão clara de defesa da soberania. E a chave é o apoio popular e a mobilização.

Fiz essa pergunta a um colega nigerino, um professor em Niamey, a capital, porque era uma das minhas preocupações. Ou seja, eles enfrentaram um exército imperialista como o da França, mas eles vão parar aí? As coisas vão parar? Ele me respondeu, eles não vai parar aí, isso é só o começo, foi isso que ele me respondeu.

Então, eu acho que os fatos estão mostrando que no Níger há uma visão muito clara de considerar as tropas militares estrangeiras como uma ocupação, como neocolonialismo. E a demanda de que as bases militares dos EUA que existem na capital, e também no norte, com um investimento multimilionário, com uma base de drones, saiam e abandonem o território nigerino o mais rápido possível. Está mostrando que o povo não vai parar em uma única medida, há um verdadeiro plano de soberania e soberania popular. Não apenas no nível da defesa de cada nação, mas há o que eu considero um pouco a hipótese do livro, ou seja, que estamos caminhando para uma revolução pan-africana a partir do momento em que não se trata mais de defender simplesmente sua própria nação, mas de criar cooperação e colocar recursos em favor dos direitos dos povos da região.

[Poucos momentos após esta entrevista, soube-se que o Pentágono ordenou formalmente a retirada de 1.000 soldados de combate dos EUA do Níger]

P: Qual seria, na sua opinião, o papel nessa região daqui para frente? da Rússia, da China ou dos BRICS?

Acredito que estamos em uma encruzilhada e que, gostemos ou não, estamos em uma situação de uma nova guerra fria. Agora, a questão às vezes é um pouco tendenciosa porque quando a questão do papel da Rússia é levantada, o Ocidente diz que ela poderia tirar vantagem e ser o novo imperialismo. Ou seja, ela vai fazer a mesma coisa que a França ou os Estados Unidos fizeram. Mas do ponto de vista dos povos africanos, a perspectiva é muito diferente.

Por isso é importante focar nos fatos. Por exemplo, observando que a França tem primeiro uma política colonial e depois neocolonial na região, com uma série de mecanismos como a moeda franco CFA [moeda de curso legal dos países da África Ocidental e Central. Significa Franco da Comunidade Financeira Africana, embora na época de sua criação significasse “Comunidade Francesa Africana”, isso é sem dúvida uma limitação da soberania econômica desses países porque a moeda foi primeiro vinculada ao franco francês e agora ao euro], com os acordos de defesa que limitavam os países outrora colonizados de estabelecer livremente relações com outros países, que impunham a venda preferencial de materiais, que eram primos da França. Ou seja, há um fenômeno que é o neocolonialismo, que não é retórico.

Em segundo lugar, quando falamos de uma nova guerra fria, devemos saber quem está criando as condições dessa nova guerra fria. No caso da Rússia, está sendo um país atacado. Vimos como a extensão da OTAN em direção à fronteira da Rússia é uma ameaça contra esse Estado. Por outro lado, quando a União Europeia e os Estados Unidos estabelecem a política de sanções contra a Rússia, a decisão soberana dos países africanos é não aplicar essas sanções. Todos esses são fatos, que podem ou não agradar a quem os ouve. As relações russo-africanas são excelentes, a cooperação da Etiópia, Burkina Faso até Marrocos é muito boa.

Ou seja, temos uma série de programas de cooperação e é possível que também esteja aproveitando sua história, houve relações com a União Soviética entre países africanos que foram consideradas benéficas. Hoje em dia, nesse contexto da nova guerra fria, não é mais uma questão de necessariamente se alinhar ao Ocidente, acredito que os africanos têm bastante clareza sobre isso.

Todos nós sabemos que os Estados têm interesses, não é uma questão de amizade, mas há relações entre Estados que são respeitosas e que buscam benefício mútuo. E nesse sentido, as relações com a Rússia são muito boas, mas não apenas com a Rússia, mas também com a China, o Irã e a Turquia.

São relações em que esses países têm perspectivas diferentes da subjugação econômica e, acima de tudo, não impedem o desenvolvimento. Quando falamos de desenvolvimento, temos que saber quais são as condições de vida do povo nigerino. O Níger é um país entre os principais produtores de urânio do mundo e, por outro lado, com os menores índices de desenvolvimento humano. Na época do golpe de estado, a pobreza extrema era de 42%, com uma enorme falta de acesso à eletricidade e com grande parte da população vivendo da agricultura de subsistência, dependendo da chuva.

No Níger, os militares estão considerando e de fato estão avançando em uma série de projetos que permitirão mais renda para o Estado e acredito que eles alcançarão maior desenvolvimento e benefício social.

Essa é a próxima pergunta: quais seriam as medidas de desenvolvimento e soberania do Níger e, em geral, dos países do Sahel que estão se desenvolvendo em resposta às sanções ocidentais?

Em primeiro lugar, quando ocorrem as sanções, temos o envio de comboios humanitários do Burkina Faso para o Níger, com o qual vemos que, embora todas as fronteiras dos países da CEDEAO estejam bloqueadas, o fato de esses três países estarem unidos lhes permite, mesmo que não tenham acesso ao mar, uma certa solidariedade e cooperação interafricana.

No caso do Níger, depois desses meses de resistência, o que ele conseguiu é bom. Eles concluíram a construção de uma usina fotovoltaica e agora estão trabalhando na produção de petróleo, que vai aumentar muito. Isso tornou possível vender combustível para países vizinhos. Com a capacidade de desenvolvimento da indústria do petróleo, eles poderão reduzir sua dependência de energia.

Também em relação à sua indústria de extração de ouro, está planejado criar refinarias de ouro. Não só isso, mas há de fato uma série de iniciativas de industrialização e a soberania alimentar está sendo proposta, o que é algo que pode ser alcançado, não é uma utopia.

Mali, Burkina Faso e Níger são países onde ainda há insegurança alimentar. Há enormes recursos e agora, expulsando os atores neocoloniais, perspectivas muito positivas de mudança estão se abrindo.

A questão agora é o que você pode esperar? Eu respondo, você sempre pode esperar pelo melhor porque a partir de agora o rompimento é total.

P: Comparando esses três países que estão passando por essas mudanças, seus três governos não necessariamente têm uma ideologia similar, além de uma posição comum de recuperação de sua soberania e nacionalismo diante do colonialismo francês. Mas você veria diferenças ideológicas entre eles ou acha que isso é irrelevante?

É uma questão que está sendo debatida agora, já que esses governos são considerados governos militares de transição e, em algum momento, devem dar lugar a governos civis.

No entanto, a situação atual é que no Mali a atividade dos partidos políticos é proibida, porque se propõe que primeiro é necessário recuperar verdadeira e totalmente a soberania nacional. Acredito que para analisar o destino dessas nações, devemos ver as coisas de uma perspectiva muito, muito ampla. Ou seja, o desafio que enfrentam é comparável à luta de Libertação Nacional. A situação em que vivem é uma independência política nominal que poderíamos chamar de falsa independência.

O povo está chamando a era da independência na década de 1960 de produto do Pacto Neocolonial. Então, se considerarmos que estamos em uma fase de luta de Libertação Nacional, e como Ibrahim Traoré [oficial militar, atual presidente interino de Burkina Faso após o golpe de estado de 30 de setembro de 2022] disse, não é apenas uma luta contra o terrorismo, mas também uma luta pela descolonização.

Nesse sentido, acredito que a prioridade está em abordar o problema do terrorismo nesses três países, mas, ao mesmo tempo, lançar as bases para defender seus recursos estratégicos, decidir sobre eles e não depender tanto de importações.

P: Mas eu insisto se há uma diferença ideológica entre esses três governos. Porque você pode descolonizar e recuperar seus recursos para criar e distribuir riqueza com justiça social ou pode ser para o benefício de uma elite local.

Eu acho que são os eventos vindouros que permitirão que o povo e os líderes decidam e tragam esse debate, essa luta novamente. Na época da descolonização política, muitos dos líderes anticoloniais eram treinados no marxismo e tinham muito claro que uma nova burguesia nacional seria formada.

Vou contar algo muito simples para ilustrar onde as coisas podem ir. Ibrahim Traoré, no mês de outubro, teve uma reunião com os patrões de Burkina Faso, com os capitalistas do país. Ele disse a eles, até agora os produtos, os alimentos que o povo burkinabe está consumindo, são em grande parte importados, a produção nacional não está sendo apoiada. E ele acrescentou, de agora em diante vocês vão dedicar 10% do seu capital à produção nacional. O que Traoré estava fazendo, que, de certa forma, é o herdeiro das ideias de Thomas Sankara, porque é impossível não relacioná-lo ao líder pan-africano assassinado em 1987, era forçar os capitalistas do país a serem uma burguesia nacional e não uma burguesia que se dedica ao comércio com estrangeiros e que não contribui em nada para o desenvolvimento do país.

Do ponto de vista europeu é muito fácil dar lições, mas eu gostaria de ver quantos presidentes há que se sentam com os capitalistas e lhes dão ordens, porque normalmente é o contrário, são os poderes econômicos que comandam o poder político.

Aqui temos uma manifestação concreta de que são esses líderes que estão dando ordens, eles estão forçando que haja uma transformação da estrutura econômica. Mas isso vai levar tempo e acredito que são os próximos anos que nos permitirão ver se ela será transformada. Por exemplo, que entrem em cena as massas do povo, que são pessoas que vivem principalmente da agricultura e que historicamente foram excluídas da sociedade, do destino da nação.

Então, tudo isso ainda está em desenvolvimento, mas acho que, por enquanto, a revolução pan-africana é uma boa notícia.

 

Alex Anfruns

Pascual Serrano é jornalista e escritor. (Entrevistador)

https://globalter.com/en/alex-anfruns-we-are-witnessing-the-collapse-of-neocolonial-architecture-in-france/

 

 

domingo, 6 de agosto de 2023

Livro: Reinvenção da África, de Ifi Amadiume (PDF)

No final de 2022 foi lançada, pela Edições Kisimbi, uma edição especial e limitada do livro Reinvenção da África: matriarcado, religião e cultura, de Ifi Amadiume.

Foi uma parceria com Iara Kisimbi, que comandou o projeto editorial, fez a capa, a diagramação, etc. A tradução de Fuca.
Essa tiragem contou com 60 exemplares, publicados de forma independente pela editora.

PDF disponível aqui: https://drive.google.com/file/d/1TvTZ2rQF9wybddRday7sXCNSt53XauLS/view?usp=drive_link

Um importante livro cuja publicação nasceu de 2 anos de diálogo, veja sua descrição abaixo.
Ifi Amadiume é uma poetisa, ativista e professora nigeriana, nascida em Kaduna. Suas pesquisas inovaram o campo das relações de gênero na África em termos teóricos, a partir dos referenciais da cultura Igbo, na Nigéria. Seu livro mais influente e premiado em 1989 é Filhas Masculinas, Maridos Femininos (1988).

Em Reinvenção da África: Matriarcado, Religião e Cultura a autora e ensaísta clama por uma nova história da África, feita e escrita por pessoas africanas.

Embora os ensaios reflitam várias preocupações temáticas, um único tema principal é o de gênero e a contestação da moralidade do poder, seja na discussão sobre a metodologia de pesquisa de gênero nos Estudos Africanos, as ideologias de gênero nas instituições sociais, filosofias de poder de gênero, mulheres na política e a questão do poder, o caráter de gênero do Estado, religiões e gênero, contradições de raça e classe nos feminismos.

Toda a noção de monolitismo paradigmático patriarcal é rejeitada em sua tese de oposição paradigmática e contestação estrutural de gênero, como resultado da presença do matriarcado nos fundamentos das ideias de parentesco na África antiga e tradicional.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Convite: Podcast Garvey Vive! – quinto episódio (23/02/2022)

Salve Povo Preto, anota na agenda aí.

Podcast Garvey Vive! – quinto episódio

No quinto episódio do Podcast Garvey Vive! vamo trocar uma ideia com os manos Fuca, ativista pan-africano e rapper, e Miguel Lil X, ativista e rapper também. O tema deste encontro é a discussão proposta pelo mais velho Chinweizu em seu artigo “Marcus Garvey e o Movimento de Poder Negro”, com traduções para o português do irmão Fuca e também pela AI-Brasil.

O episódio vai ao ar dia 23/02, às 20:30 no canal do YouTube da Afrocentricidade Internacional- Divisão Brasil. Garvey vive!

Um só Destino! ️🖤💚



Nesse link, bora! 
https://www.youtube.com/watch?v=1ElZujP9dQU

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Conversando com o povo #2 - texto

Enquanto existir a maioria negra alienada da sua consciência racial, é sinal que ainda existe a escravidão. Sendo esta, agora, a escravidão mental.

Então é necessário libertar as mentes pretas através do estudo e resgate ancestral histórico-cultural africano. Nosso orgulho!

Romper os grilhões da mente, é parar de pensar como os brancos quer que você pense, ou seja, a favor dos interesses deles: que é continuar dominando e comandando nosso povo. Em muitos casos nos humilhando e diminuindo nossa dignidade.

***

Vc já sofreu racismo, preconceito ou discriminação racial?

Se caso não sofreu, acredita que o racismo existe?

...A questão é que a existência do racismo não é opinião, é fato comprovado na sociedade.

Mas,... e como deveria ser combatido o racismo?

Apenas xingando os racistas?

Ou fingindo que ele não existe?

Não, ainda a saída mais viável é a solidariedade e união entre as pessoas/famílias pretas em busca de se tornarem cada vez mais fortes.

***

Diz o ditado que agimos mais com medo de perder algo do que para ganhar algo.

Se caso não nos movermos para resgatar nossa liberdade da mente. Pelo menos devemos pensar que num futuro cada vez mais competitivo os desunidos e os mais fracos estarão sujeitos a piores condições socioeconômicas (isso já é realidade). E pode ter certeza que se for preciso, os opressores (elite branca) irão escravizar novamente a raça mais dividida e fraca.

Com isso, não é que devemos parar de seguir nossos objetivos já existentes de vida (alguns deles sim, se forem destrutivos), mas sim separar e dedicar um momento para fortalecimento e participação dessa união/solidariedade do povo preto. E isso é apenas o começo.

Ame seu povo! Ame sua raça!

Mesmo que o sistema não quer que você pense assim.

Contudo, a sua mente já está em processo de libertação...

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Rosa Amelia Plumelle-Uribe - Breve nota

Nota referente ao texto Da Barbárie Colonial à Política Nazista de extermínio, de Rosa Amelia. Em seguida tem uma biografia da autora. Essa nota foi apresentada no grupo de estudos dos livros da UCPA em novembro de 2021, a partir do livro Coleção Pensamento Preto volume1: Epistemologias para o Renascimento Africano. Publicado pela Editora Filhos da África, 2018.

Da Barbárie Colonial à Política Nazista de Extermínio – Breve nota

- Podemos dividir em pelo menos dois momentos de ataques deferidos pelos brancos contra os pretos. 

- O primeiro seria o sequestro e o tráfico transatlântico de escravos vindos da África para as américas desde a segunda metade do século 15, e isso atrelado à colonização do continente americano. O segundo momento seria o de colonização do continente africano desde a segunda metade do século 19. 

- A parte que vou tratar aqui será referente ao primeiro período: a colonização das Américas. Essa colonização trouxe duas consequências nefastas aos indígenas e, em seguida, aos africanos.

- 1ª consequência: Genocídio indígena através da dizimação e extermínios de milhões, sendo que esse continente era habitado pelos indígenas de diversos povos. 

- Rosa Amelia aponta que, de acordo com o censo dos espanhóis, existiam 80 milhões de nativos nas américas. Já de acordo com o senso de historiadores da América do Sul, existiam 100 milhões habitando o continente americano. 

- Seja como for, em ambos os casos, o extermínio girou em torno de 90% do povo indígena. Desse modo, Rosa vai caracterizar essa hecatombe como sendo o primeiro genocídio dos tempos modernos. 

- Ainda, para além dos números, o comportamento dos brancos cristãos culminou numa destruição continuada através da justificação de tal genocídio, criando-se, assim, na dimensão cultural, ideológica e política, a supremacia branca em detrimento dos povos não-europeus e não-brancos. Gerando até mesmo consequências dentro da Europa, e é essa consequência dentro da Europa que poderá servir de fio condutor, direto e indireto, da barbárie colonial ao nazismo. 

- Cruelmente, a situação de impunidade e a pretensa supremacia branca, favoreceu para que a brutalidade branca fosse posta em prática. Uma delas seria jogar os indígenas e até bebês como alimento para cães ou os queimando em fogueiras como forma de diversão branca.

- Podemos perceber que não houve conversa, não houve acordo e não houve nem mesmo piedade, e ao exterminar praticamente toda população de indígenas que também não se submetiam à situação de escravizados, esse ditos conquistadores brancos partiram para a solução africana de fornecimento de escravos para a América. 

- 2ª consequência: essa invasão em busca de mão de obra escrava na África, ainda no século 15, se caracteriza como a segunda consequência da colonização das Américas. Ou seja, esse empreendimento das nascentes potencias ocidentais desencadeou a deportação forçada mais gigantesca da história da humanidade, que além de esvaziar parte da população do continente africano, desagregou a economia dos países africanos. Economia essa que não girava em torno do escravismo. 

- E também ao citar a desagregação da economia africana devido o sequestro de africanos, podemos ter noção de que já existia civilização, organização e bem-estar social na África. Ao contrário do que justificara os brancos.

- É importante notar que logo de início a autora traçou um breve panorama da escravidão antes de 1492, mesmo que sua análise se dê no pós 1492, pois foi com certeza a marca da origem de um genocídio sem precedentes na história humana. 

- A escravidão como uma servidão antes da era moderna, ocorreu tanto entre europeus versus europeus como na própria África, entre os africanos. Sobre os europeus x europeus, Rosa Amelia diz que “...quando o domínio dos árabes mulçumanos se estende em direção à Europa, o comércio de seres humanos é já uma atividade milenar entre os europeus. O reinado do Islã na Espanha de 711 até 1492 limitou-se a dinamizar o tráfico de escravos dentro da Europa, fazendo do continente um importante fornecedor de escravos, homens e mulheres, expedidos para os países do Islã...”

- Já no tópico “Uma empresa de desumanização”, a autora vai abordar a consolidação de leis baseadas na pretensa inferioridade dos não brancos e suposta supremacia branca que fora justificada pelo cristianismo. 

- Então cada metrópole tinha criado seu arsenal jurídico para regulamentar o genocídio. 

- Desse modo, ela vai evidenciar também que durante os séculos 15 e 19, nenhuma voz de autoridade ocidental se ergueu contra as barbáries, nem mesmo os iluministas do século 18, ao quais Rosa Amelia vai traçar sua critica também. 

- Pois esse movimento das Luzes argumentou o triunfo do pensamento cientifico sobre a fé religiosa e isso deu uma energia à raça dos senhores e aos valores da civilização ocidental e uma credibilidade que a religião já não mais beneficiava junto dos espíritos esclarecidos. 

- Com isso, o discurso cientifico passa a dar suporte ao racismo. Por isso também, o que seria um possível desmantelamento das estruturas genocidas com as abolições da escravatura, tal possibilidade nem chegou a arranhar as profundas estruturas da barbárie institucionalizada da supremacia branca.  

- Opinião

- Enfim, ainda sobre as mesas de conferência do ocidente nosso destino estava sendo traçado, sob a desarmonia que os yurugu representam no mundo!

- Vemos então que é uma denúncia bem real e de forma alguma anacrônica ou obsoleta, antiga ou retrógrada – o que pra muitos parece ser -, e tal como o Discurso sobre o colonialismo; Racismo e Sociedade, de Carlos Moore; O Genocídio do Negro Brasileiro, de Abdias; foi bem fundamentada. 

- Vale notar também que junto dessas denúncias devem vir cada vez mais as perspectivas de como se dava o continente africano antes da barbárie branca. Não o fiz devidamente aqui, mas já temos feito em outros textos, tais como: O Pan-Africanismo e a Família Africana e também em Unidade e Luta. 


Rosa Amelia Plumelle-Uribe
[Sugestão: biografia de introdução à nossa apresentação. Extraída do livro dela, White Ferocity].

Advogada e ensaísta, Rosa Amelia Plumelle-Uribe nasceu em 24 de dezembro de 1951 em Montelíbano, Colômbia, mas vive na França.

No final da década de 1970, em Bogotá, capital da Colômbia, ela fez parte do grupo “Cultura Negra”, onde tomou conhecimento da posição dos pretos na história da humanidade.

Desde então, ela tem focado seu trabalho na denúncia de crimes e injustiças perpetrados sob a bandeira da dominação e opressão branca e discriminação racial de outros grupos, incluindo o tráfico de escravos, escravidão, massacres de povos indígenas por colonos, colonialismo, nazismo e apartheid. 

Através de seu trabalho ao longo dos anos, ela continua a construir um relação Norte-Sul diferente.

Em 2001, as pesquisas e reflexões de Plumelle-Uribe ao longo de muitos anos se concretizaram com a publicação de Ferocidade Branca: Os genocídios de não brancos e não arianos, de 1492 até hoje, e uma edição alemã publicada em 2004. 

Em outro trabalho chamado Tráfico de brancos, tráfico de negros: aspectos desconhecidos e consequências atuais [Traite des Blancs, traites des Noirs: aspect méconnus et conséquences actuelles] (L'Harmattan, 2008) ela enfoca essencialmente como, por um lado, os traficantes de escravos árabes-muçulmanos exportavam africanos para a Ásia, Europa e Oriente Médio e, por outro lado, como os europeus continuaram a se vender uns aos outros.
Nos últimos anos, a demanda por reparação pelos crimes do tráfico de escravos tem gerado grande hostilidade entre os poderes implicados nesses crimes. Confrontada com a oposição à reparação por todos aqueles que se sentem ameaçados pela própria ideia, Plumelle-Uribe publicou Vítimas de escravistas muçulmanos, cristãos e judeus. Racialização e banalização de um crime contra a humanidade [Victimes des esclavagistes musulmans, chrétiens et juifs. Racialisation et banalisation d’un crime contre l’humanité] (Anibwé, 2012) para demonstrar as responsabilidades dos atores envolvidos, dos financiadores e dos beneficiários da escravatura e do tráfico de escravos.

Após os ataques terroristas mortais de 13 de novembro de 2015 na França, Plumelle-Uribe publicou 13 de novembro de 2015. Vítimas inocentes das guerras (Anibwé, 2016) para analisar as circunstâncias históricas e as causas que tornaram as populações civis vulneráveis e colocaram em risco a segurança de todos. Ela examina elementos que ajudam a compreender que, na nova realidade do século XXI, a reciprocidade da violência é tal que as intervenções militares no Sul não são mais viáveis sem comprometer a segurança das populações civis do Norte.

Plumelle-Uribe também contribuiu para várias obras coletivas, como Escravidão, colonização, libertação nacional [Esclavage, colonization, libérations nationales] (L'Harmattan, 2000), Desprezo, escravidão e lei [Déraison, esclavage et droit] (UNESCO, 2006), Crimes históricos e reparações: as respostas da lei e da justiça [Crimes de l'histoire et réparations: les réponses du droit et de la justice] (Bruylant, 2004) e 50 anos depois, que independência para a África [50 ans après, quelle indépendance pour l'Afrique] (Philippe Rey, 2010), entre outros.

Agradecimentos [dela feito no livro, acrescenta sobre sua trajetória]

Eu cresci em uma sociedade onde as desigualdades em todos os campos da vida, incluindo a morte, eram tais que causaram e continuam a causar consequências tão terríveis que, mesmo aqueles que acreditavam ter escapado da miséria, tiveram poucas oportunidades de desfrutar de seus confortos materiais sem perder parte de sua humanidade. O menor sentimento humano foi suficiente para desencadear o conflito com um sistema que era controlado por apenas algumas famílias cuja riqueza era comparável à riqueza das maiores fortunas do Ocidente. Esse sistema estava determinado a manter o status quo e, como tal, estava disposto a criminalizar qualquer tipo de demanda social.

Nesse contexto, nas décadas de 1960 e 1970, muitas pessoas nos países das Américas e em outras partes da África e do continente asiático, inclusive adolescentes, tomaram consciência do que significava alienação econômica. Eles assumiram o compromisso ao lado dos mais desfavorecidos. Devo prestar uma homenagem à minha mãe porque, embora não tenha partilhado todas as minhas escolhas, sempre me apoiou mesmo quando, contra a sua vontade, pagou as consequências do meu ativismo.

O que quero sublinhar é que, apesar de ter adquirido consciência desde um estágio bastante precoce da alienação econômica e das desigualdades sociais, cheguei à idade adulta sem perceber o que significava alienação racial.

Eu devo a Amir Smith, Vicente Murrain e Amilkar Ayala, em Bogotá, em 1977, minha descoberta do Discurso sobre o colonialismo, de Aimé Césaire, dos livros de Frantz Fanon, da autobiografia de Malcolm X e Tambours del destino, o trabalho de Peter Bourne sobre a revolução haitiana. Só então me dei conta de nossa posição particular na história da humanidade. Uma posição, como assinala Césaire, que remonta a uma época em que milhões e milhões de mulheres, homens e crianças, foram expulsos de suas casas, acorrentados como animais e compelidos a cruzar o Atlântico sendo despojados até de sua dignidade humana sob os céus da América.

Gostaria de agradecer a Jovina Teodoro por me apresentar o livro profundamente comovente O genocidio do negro brasileiro, de Abdias Do Nascimento.

[pretendo ler até aqui pra então entrar no texto que estudamos]

Naquela época, graças a uma campanha internacional de conscientização das Nações Unidas, sob a pressão combinada de países africanos e da Europa Oriental, fui informada do crime contra a humanidade constituído pelo apartheid, do qual não tinha ouvido falar em parte alguma, fosse no meu círculo político ou em qualquer outro lugar.

Tive a sorte de entrar em contato na França com Jacqueline Grunfeld, uma ex-combatente da Resistência Francesa, ativista anti-apartheid que, até sua morte em 1993, lutou contra todas as formas de racismo. A esta mulher corajosa e generosa devo minha habilidade de discernir entre o judaísmo e o sionismo.

Também tirei grande proveito de meu encontro com Denise Mendez, cuja honestidade intelectual e padrões éticos rígidos foram de grande ajuda para mim em meus esforços.
Quando li Le Code Noir ou le calvaire de Canaan, de Louis Sala-Molins, senti a necessidade de encontrar o autor e abraçá-lo com muito carinho em nome do meu povo.

Também tirei grande proveito dos meus encontros com Régis Doumas que, apesar de não compartilhar minhas crenças, pôde entrar em um debate comigo que ao longo dos anos se tornou um verdadeiro diálogo, pelo qual sou extremamente grata a ele.

Tive a sorte de conhecer Christiane Rémion-Granel, a quem gostaria de agradecer pela sua perseverança nesta luta pela dignidade humana e que muito me estimulou.
Desejo estender meus agradecimentos muito especiais a Frédéric Plumelle, meu marido, a quem este trabalho deve muito. Sem a ajuda generosa que ele me deu por mais de quinze anos, eu nunca teria conduzido a pesquisa que foi essencial para o meu trabalho. Além disso, ele também estava disposto a atuar como meu parceiro durante as etapas, a quem eu apresentei os resultados de minhas análises e pensamentos. Suas sempre bem fundamentadas críticas e sugestões de redação ajudaram enormemente meu progresso. Por isso sou muito grata a ele porque, graças ao seu apoio, pude levar até o fim esta contribuição que devo à memória do meu povo.

Também quero agradecer aos nossos três filhos, Corinne, Henri e JeanGabriel, que à sua maneira me ajudaram e que muitas vezes sofreram as consequências da minha indisponibilidade enquanto preparava esta obra.


por Fuca, nov.21..



terça-feira, 30 de novembro de 2021

O Holocausto dos Pretos (Genocídio Global) - Del Jones - pdf

O Holocausto dos Pretos (Genocídio Global) - Del Jones - (pdf aqui)

https://drive.google.com/file/d/1VIGzLmmb22j8jBAfN-JQAjQ42EqVn4QP/view?usp=sharing



Capítulo 1

1- GUERRA TRIBAL (europeus vs. europeus)

Hoje, cada grupo de pessoas, armado com sua identidade cultural redescoberta ou reforçada, chegou ao limiar da era atual [pós-guerra]. Um otimismo africano atávico, mas vigilante, nos inclina a desejar que todas as nações se deem as mãos para construir uma civilização planetária, em vez de afundarem na barbárie.

-Cheikh Anta Diop, Civilization or Barbarism

 Até mesmo nosso falecido e brilhante estudioso e irmão Diop, um gigante da história, da antropologia e da ciência, demonstra que há algo na mente Afrikana que não se consegue libertar da nossa composição genética humanística básica ao lidar com nossos inimigos.

Diop, mais do que muitos, mostrou os fatos que tratam de nossa vitimização por outros povos. No entanto, até o dia de sua morte ele manteve uma postura com o pensamento positivo de que os bárbaros não eram bárbaros e podiam reverter o comportamento deles em relação aos outros povos do mundo, aos recursos e à força trabalho desses povos [os outros]. Em suma, eles [os bárbaros] acreditam que ainda somos seus escravos, nossas terras ainda são suas e nossas próprias vidas deveriam estar a serviço de sua realidade inventada.

Nunca conseguiremos confrontá-los para salvar nossa existência como um povo enquanto acreditarmos que eles inverterão essa lógica e se voltarão para o lado humano da felicidade. Nah, não há justificativa histórica para essa esperança. O Dr. Martin Luther King Jr. pode ter tido um sonho, mas uma bala em sua garganta foi a realidade.

Nenhum povo, repito nenhum povo, vai para uma batalha, uma luta, uma guerra, sem perceber que deverá usar de tudo para derrotar o inimigo. Enquanto restringirmos nossas apostas com esperanças irrealistas, mais adiante o programa genocida dos inimigos, incluindo “nenhuma misericórdia”, irá prevalecer.

Uma pequena visão geral das interações tribais dos europeus entre europeus acaba com esse sonho. O legado do europeu é a guerra, a guerra sem fim, e com mortes. Eles chegaram ao poder através deste método e não existe nenhuma inclinação para mudar o modo de operação que confiscou o mundo a eles.

Continuamos transmitindo aos nossos filhos essa esperança, essa loucura, essa piada, de que os brancos vão mudar, quando já não há evidências que sustentam essa noção. É um desserviço atribuir isso ao nosso povo sitiado, pois rompe a urgência de nossa luta e deixa nossa própria sobrevivência às abstrações metafísicas. Isso é guerra! Nossas baixas já estão muito além das sofridas por qualquer nação, por qualquer raça, ao longo dos tempos. Não podemos ficar no meio termo.

Eles são um povo de guerra, que levou a tecnologia de guerra a níveis perigosos. Eles desenvolveram “formas superiores de matança” que vão além da guerra, além do genocídio e entram no reino da loucura. Nesta realidade, não há espaço para a complacência. A arma fumegante ainda está carregada e apontada para o povo Afrikano, e está nas mãos sedentas dos assassinos profissionais em massa... é um horror!

Se você acha que isso é um xingamento bobo, você não deve estar bem fundamentado na história europeia. Até mesmo a interpretação deles dos eventos que os moldaram lida duramente com seu comportamento guerreiro.

Vamos apenas escolher uma pepita. Nosso ilustre ancião e professor John Henrik Clarke em seu grande livro Afrikans at The Crossroads: Notes for an Afrikan World Revolution aponta que o sistema europeu de feudalismo nada mais era do que escravidão doméstica. Claro, o termo (feudalismo) foi desenvolvido para esconder a verdade sobre como eles lidavam uns com os outros. Nosso ancião escreveu:

 Se você entender as Cruzadas, especialmente as Cruzadas das Crianças, 1212 D.C., quando os europeus marcharam com mais de 100 000 crianças pela Europa, metade delas morreu congelada durante o inverno anterior, e quando chegaram às águas quentes do Mediterrâneo, na primavera, eles venderam a outra metade para os ‘árabes infiéis’ que eles deveriam ter lutado contra. Se você entende isso, há algo lógico sobre o comércio de escravos em Áfrika; lógico que qualquer homem que fizesse isso com seus filhos faria ainda pior com os filhos dos outros ... Mas, se você o conhecesse, e se analisasse a sua história, saberia que se trata de gangsters, e é melhor matá-los antes que eles matem vocês.

 Historicamente, nossos inimigos foram cruéis com seus próprios filhos. Ainda hoje, a Europa e sua filha bastarda amérikkka têm leis de trabalho infantil para suavizar parte da exploração mortal de seus próprios filhos.

Durante a chamada Revolução Industrial, eles botavam seus filhos para trabalhar até a morte. Aqueles que não morreram, arriscaram a vida fazendo trabalhos perigosos de 18 a 20 horas por dia por pouco mais do que seu sustento. Muitos perderam membros, dedos ou ficaram aleijados pela ganância de seus pais.

Os maus-tratos às crianças dos chamados impérios da Grécia e de Roma fazem parte da história com a qual eles viveram durante anos. Você acha que o abuso sexual de crianças é uma nova moda de Eddie “Fast Eddie” Savitz da Filadélfia ou das legiões de pervertidos que abusam de crianças em uma grande porcentagem de suas creches, escolas e sistemas religiosos?

Você se lembra desse caso do molestador de crianças que pagou por meias sujas, roupas íntimas, sexo anal e oral, enquanto pagava a mais por merda humana? Ele também fez com que algumas crianças cuspissem em sua boca. Por um minuto, esqueça “Fast Eddie”. Poucos apontam que de 2500 a 5000 crianças brancas participaram voluntariamente desse exercício moralmente falido. Portanto, é mais uma acusação à raça branca do que ao indivíduo “Fast Eddie”.

A questão é clara, a maldade de que estou falando é branco sobre branco. No entanto, você nunca os ouve, ou mesmo nós, falar sobre o crime de branco contra branco. Bem, a guerra é um crime e está sempre presente na vida caucasiana. Diga-me o que foram as Guerras Mundiais I e II, decerto o crime dos brancos contra eles próprios.

Quantos milhões morreram na Primeira Guerra Mundial e quantos mais em sua segunda? E quantos africanos foram convocados ou sofreram lavagem cerebral para entrarem no burburinho do lado de uma ou outra tribo branca. Quantos, diga-me, da Áfrika, da América Latina, das Ilhas ou aqui no ventre da besta? Isso não é um crime?

Agora adicione a tentativa de Hitler de exterminar os outros brancos que foi cruel, mortal e bárbara. Quero dizer, é mais um caso de tribalismo pálido repetido inúmeras vezes. No entanto, de alguma forma, os chamados judeus estão mais zangados, mais vingativos com o povo da Áfrika do que com os alemães.

Como a história é controlada pelos vencedores, ninguém mencionou os 20 milhões de mortos na frente russa pelos alemães. Foi um crime maior. Devido às lutas ideológicas do passado entre o capitalismo e o marxismo, essas mortes foram desvalorizadas ou ignoradas. Eu sugeriria que a União Soviética agora está mais por baixo com seus antigos inimigos ocidentais. Portanto, veremos agora produtos de mídia e educacionais solidários com suas perdas.

A história da guerra entre eles é tradicional. A devastação, matança e falta de paz percorrem sua existência.

Eles não permitem que você os veja como as tribos bárbaras que são, porque eles elaboram os currículos e evitam essas referências contra eles. Tribais eles foram e tribais eles sempre serão. Na verdade, sua maior luta para chegar a uma “Nova Ordem Mundial” será tentar superar seu próprio tribalismo mortal.

A selvageria e a barbárie que a França e a Inglaterra executaram uma contra a outra são tradicionais, as duas se atacaram de 1337 a 1453, a chamada de “Guerra de 100 Anos”. Obviamente, sempre que você batalha por tanto tempo, a guerra é a sua norma e a paz é anormal.

A última Cruzada terminou por volta de 1270 e as Cruzadas duraram de 1095 até então. Novamente, você pode ver que a guerra é um estado normal de ser e que a paz é quase inexistente. Além disso, a “peste bubônica” devastou sua população em 1347, vinte e cinco milhões morreram em seis anos. 50% das pessoas nas cidades morreram, 60% de Veneza morreram em 6 meses e, ainda, epidemias menores ocorreram durante o resto do século.

Portanto, seu comportamento guerreiro e a “peste bubônica” mantiveram a morte ao redor de sua frágil existência. Eles se acostumaram a morrer, a morte era sua norma e a vida não valia nada na Europa. E se a vida deles não valia nada para eles, então você sabe que eles não se importavam com a vida dos outros também.

Um poeta francês daqueles dias e tempos escreveu:

 Sofremos com a guerra, a morte e a fome; com o frio e o calor, dia e noite, minando nossas forças; pulgas, sarna e tantos outros vermes fazem guerra contra nós. Em suma, tenha misericórdia, Senhor, de nossas pessoas perversas, cuja vida é muito curta.

 Sendo assim, era uma desgraça ser europeu assim como deveria ser agora. Eles tinham pouco conhecimento de medicina e das doenças e eram muito da guerra, mas mais importante ainda, bárbaros e sem sintonia com a natureza. Na verdade, eles estão em contradição com a natureza, devido à crença profunda de que eles são de fato DEUS.

Só isso pode explicar suas contínuas contradições básicas com a natureza, à medida que destroem a camada de ozônio, poluem aquele líquido precioso chamado água e matam o próprio ar que todos devemos respirar. Nada mais pode explicar essa atitude em relação à beleza da vida e tudo o que está ao nosso redor.

Em 1300, os turcos otomanos estavam atacando pelo leste e os mouros atacando pelo oeste, os turcos invadiram a Grécia e os Bálcãs, a Europa estava sendo estrangulada.

Foi o desenvolvimento da superioridade naval que os salvou e eles correram ao redor dos turcos, aprendendo novas rotas marítimas para o extremo Oriente. Enquanto testavam essas rotas, eles tropeçaram no chamado “Novo Mundo”. É o que eles dizem. John Henrik Clarke apresentou um bom argumento de que Colombo sabia o que estava fazendo e havia adquirido o conhecimento das chamadas Índias Ocidentais a partir dos Afrikanos com quem ele havia lidado ao longo da costa da Guiné, muito antes de navegar em 1492.

O dito renascimento europeu, após dois séculos de regressão, ajudou no desenvolvimento do ferro. Além disso, o progresso intelectual ajudou a empurrá-los avante. Novas técnicas agrícolas e coisas como arados e arreios de ferro permitiram que usassem cavalos em vez de bois lentos. Isso deu um impulso às suas sociedades. Obviamente, eles aprenderam algo com as culturas contra as quais eles estavam lutando.

No entanto, foi o uso da pólvora que os preparou para devastar o mundo. Isso permitiu uma nova tecnologia militar baseada no canhão para o mar e para a terra. Além disso, o desenvolvimento de velas para substituir os remadores e, com canhões montados em navios de mar, agora podiam comandar os mares.

Um país pequeno, Portugal, havia dominado a nova tecnologia atraindo os melhores construtores de navios, matemáticos e artesãos para construir sua frota. Além disso, eles escaparam da turbulência que a maior parte da Europa havia passado e sua sociedade estava mais intacta por falta de conflito interno e externo.

Foi o demoníaco Papa Alexandre VI quem deu à Espanha a soberania sobre todas as partes do mundo não cristianizadas. Dois anos depois, fechou um acordo concedendo a Portugal tudo o que está a leste das ilhas de Cabo Verde. Em suma, o Papa católico sentiu que poderia doar terras de outras pessoas que ele nunca nem viu. Essa é a arrogância do europeu e, como você pode ver, eles não mudaram nada. Recentemente, a amérikkka invadiu a pequena Granada, o Panamá, e bombardeou o Iraque sem piedade. Você deve entender que eles estão apenas sendo consistentes com seus ancestrais mortais.

Colocando isso de lado, foi aqui que a sua atenção voltou-se para seus vizinhos, que eles agora podiam alcançar, agora podiam roubar, agora podiam estuprar, agora podiam escravizar e agora podiam matar. Foi nessa época que o europeu se soltou no mundo e nunca mais foi o mesmo.

Após as Cruzadas, que culminaram em derrota militar, a Europa foi golpeada e quase destruída. Mais uma vez, o historiador John Henrik Clarke em seu livro Africans at the Crossroads ofereceu isto:

 A China era a nação técnica líder no mundo naquela época e eles estavam 150 anos à frente da Europa em habilidades marítimas. A Europa não tinha feito um barco que pudesse aguentar o rugido do oceano. Eles não haviam aperfeiçoado a bússola, e foi essa ignorância que os prendeu na Europa desde a queda de Roma. Agora eles tinham que sair da Europa. Eles haviam perdido um terço de sua população por causa da fome e das pragas. Eles haviam se recomposto parcialmente, graças à estrutura da Igreja Católica, mas eles ainda estavam com fome.

O aprisionamento às condições difíceis e hostis produz um povo com um determinado tipo de temperamento. Esse temperamento então deveria ser projetado no mundo, e ainda teremos que lidar com isso até que o entendamos e paremos de transferir nossos sentimentos para um povo que não compartilha de nossa formação cultural e histórica.

 Esta visão geral básica de alguns incidentes históricos críticos (lidando com o tribalismo europeu) que formaram a base da cosmovisão europeia deve ser útil para entender algumas das razões pelas quais eles são subdesenvolvidos humanisticamente enquanto raça.

Um fator importante que devemos lembrar ao lidar com eles é o fato óbvio de que eles não são como nós, eles não pensam como nós, e eles devem ser tratados com base em seu comportamento histórico em relação a nós e outras pessoas de cor.

Isso ajuda a evitar a armadilha da cosmovisão infantil e estabelecida, de que somos apenas uma parte da família feliz do homem, quando, na verdade, temos sido suas vítimas perpétuas. Ademais, depois de digerir isso, é importante notar que seus programas genocidas neste ponto na história são lógicos e viáveis para a manutenção da supremacia branca.

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 SOBRE O AUTOR (1992): Del Jones é o autor de Culture Bandits, Volumes 1 e 2 e Invasion of de 'Body Snatchers. Ele mora atualmente na Filadélfia, Pensilvânia, e tem viajado muito como repórter investigativo e palestrante. Ele cobriu as violentas eleições na Jamaica e fez parte de uma equipe de investigação em Granada semanas antes da invasão covarde pela máquina militar imperialista amerikkkana. Ele também visitou a África do Sul para estudar a situação política de lá.

Jones obteve seu diploma na escola de duras experiências [hard knocks] e seu bacharelado em organização nas ruas e nos campi. Seu mestrado está em dissecar as distorções da mídia, suas mentiras e meias-verdades, e expô-las ao povo. Seu Phd é sobreviver para vencer no dia seguinte. Como resultado de suas muitas realizações, ele recebeu suas credenciais de Correspondente de Guerra. De agora em diante, C.G. aparecerá após seu nome. Ele também recebeu o prêmio Carter G. Woodson pelo Culture Bandits Vol. 1.