segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Artigo: Black Power Back To Pan-Africanism - Stokely em português


Do Poder Preto ao Pan-Africanismo

O Pan-africanismo é baseado na crença de que a África é uma unidade; as fronteiras artificiais são o resultado da conferência de Berlim, onde as potências europeias dividiram o continente e os despojos entre si. O Pan-africanismo é baseado na crença de que todos os povos africanos são um, onde quer que estejamos, somos um, Dr. Nkrumah diz, "pertencemos à nação Africana". A dispersão foi o resultado do imperialismo europeu e do racismo. Pan-africanismo é fundamentado no socialismo que tem suas raízes no comunitarismo. Qualquer ideologia buscando solucionar os problemas do povo africano deve encontrar as suas raízes no Pan-Africanismo.

Os problemas devem ser colocados corretamente. Todos os componentes devem ser colocados juntos e vistos como um todo. As condições históricas devem ser vistas na perspectiva correta. O Pan-africanismo estuda a história da África e de seu povo. A história africana raramente é registrada como a história dos africanos, normalmente é relatada como um desdobramento da história europeia. Consequentemente, quando estudamos a nossa história o ponto de partida tem sido geralmente a "descoberta" da África pelo Europeu. Assim, nossos irmãos e irmãs no Hemisfério Ocidental começam a nossa história com a escravidão, e no continente começamos com o colonialismo, e esses dois fatos não estão unidos. Esta análise incorreta traz soluções incorretas. Africanos no Hemisfério Ocidental visualizam parte do problema (a escravidão) como uma entidade, no continente outra parte (colonialismo) é visto como uma entidade independente. O problema é agravado no continente pelo fato de cada país estar isolado como uma entidade separada, argelinos veem os seus problemas como a situação dos argelinos, quenianos como os quenianos, os sul-africanos como sul-africanos, etc., etc. este pensamento paroquial deve cessar. Nosso ponto de partida da história deve preceder o período do colonialismo e da escravidão, ele deve preceder a invasão árabe e europeia. Isso não quer dizer que nós queremos parar no passado de glória da civilização Africana, que contribuiu imensamente para a civilização mundial; mas, a fim de traçar o futuro, devemos compreender claramente o passado. Mais importante, esta interpretação nos permite visualizar os efeitos que esses eventos tiveram em nós. Assim, somos lembrados em Consciencism*(conscientização) que a nossa história deve ser vista como um todo, como "a história da nossa sociedade."

Os Africanos de hoje, independentemente da localização geográfica, têm um inimigo em comum e enfrentam os mesmos problemas. Nós somos vítimas do imperialismo, do racismo, e nós somos um povo sem terra. Que somos vítimas do imperialismo é um fato. Que somos vítimas de racismo é bem evidente; o epítome desta forma brutal de opressão encontra sua expressão política organizada na África do Sul, as colônias portuguesas, e claro, os Estados Unidos da América. Não devemos esquecer a América do Sul, o Brasil, em particular, onde uma proporção considerável da população são africanos que sofrem discriminação racial. Sobre a questão da falta de terras ao africano é dividida em dois grupos. Um grupo foi retirado da sua terra (a escravidão), o segundo grupo teve a terra tirada deles (colonialismo). Esses fatos todos apontam para a necessidade de um esforço em conjunto para resolver os nossos problemas em comuns, isto é o Pan-Africanismo.

O conceito de Pan-Africanismo não é novo. Encontra-se sua expressão em revoltas na África durante a escravidão, e atingiu o seu nível de organização no início do século XX. De lá para cá, alguns aspectos do Pan-africanismo foram encontrados em cada movimento que buscava libertar os africanos. Se interpretarmos a nossa história corretamente, vamos notar que estes movimentos, aparentemente não relacionados, foram consciente ou inconscientemente movendo-se em um esforço combinado no sentido de Pan-Africanismo. O movimento teve seus pontos altos e baixos, mas nunca foi dissipado. Todos os gigantes intelectuais do mundo Africano foram batizados pelo Pan-africanismo. Embora o Pan-africanismo tem sua origem entre os africanos da diáspora, a Mãe África é a essência, indispensável. (sine qua non). Africanos de ambos os lados do Atlântico contribuíram imensamente para a ideologia, mas apenas na África é que vamos ver a sua consecução. Dr. WE Burghardt Du Bois, o Sr. Henry Sylvester-Willians, o advogado Joseph Casely-Hayford, o advogado Ladipo Solanke, o Sr. George Padmore, o Honorável Marcus Garvey, Patrice Lumumba, Malcolm X, Ben Belta, presidente Ahmed Sékou Touré e o presidente Kwame Nkrumah são alguns dos gigantes. Todos esses grandes homens viram e ainda veem a unidade dos africanos como o pré-requisito indiscutível para a libertação completa. Eles foram e são Pan-africanistas em pensamento, palavra e ação. Eles são todos africanos. Eles viram e sentiram a opressão de seu povo e se comprometeram em suas vidas para acabar com esse sofrimento. Seus sonhos eram e são para restaurar a dignidade à mãe África e seus filhos. Eles são vítimas de racismo; é natural que devem ser antirracistas. Eles também são anti-imperialistas, eles alegam que o capitalismo é um sistema estrangeiro na África e todos os vestígios devem ser destruídos.

Infelizmente, neste ensaio, não podemos discutir a história e o desenvolvimento do Pan-africanismo. Essa tarefa foi realizada pelo Sr. Vincent Bakpetu Thompson em seu excelente livro Africa and Unity: The Evolution of Pan-africanismo. Em certos períodos de nossa história o Pan-africanismo enfrentou o que pareciam ser obstáculos intransponíveis. No primeiro congresso Pan-Africano, praticamente toda a África estava colonizada. Assim o Pan-africanismo permaneceu no nível de teorias e protestos. Hoje, mesmo com a independência nominal no nosso continente, o pan-africanismo encontra terreno fértil. Quando Casely-Hayford estava chamando a seus irmãos do outro lado do Atlântico, a Gana era a "Costa do Ouro" e dominada pela Grã-Bretanha. Quando Kwame Nkrumah, estendeu as mãos a seus irmãos, Gana era independente e Nkrumah seu líder.

Quando Marcus Garvey disse que a menos que a África fosse livre, os africanos de todo o mundo não estariam livres, ele foi respondido por uma contrarrevolucionária do presidente rei da Libéria que não queria relação com seus irmãos. Mas Malcolm X dirigiu-se à Organização de Unidade Africana. Marcus Garvey nunca pôs os pés na África, e o irmão Malcolm foi tratado como um resplendido príncipe Africano. Os africanos da diáspora foram se movendo em um ritmo rápido em direção ao Pan-africanismo, mas poucas pessoas têm analisado esse movimento corretamente. Irmão Malcolm disse que nós necessitamos do Nacionalismo Negro. Mas o Nacionalismo Negro é Nacionalismo Africano. Porque o Povo Preto é o Africano e o Africano é o Povo Preto. Assim Nacionalismo Preto do irmão Malcolm é realmente um Nacionalismo Africano. Nacionalismo Africano encontra a sua maior aspiração no Pan-africanismo. Assim também Black Power realmente significa Poder Africano. A base do Poder Africano é sua pátria-mãe África. A fim de alcançar o poder Africano, Mãe África deve ser forte. Para ser forte ela deve estar unificada. O Pan-africanismo moderno, que encontra a sua mais alta expressão política no Nkrumahism, tem como seu princípio básico "a libertação total e unidade da África sob um governo socialista africano." Assim que esse objetivo for alcançado, os africanos de todo o mundo não só serão respeitados, mas terão o Poder Preto para exigir o respeito. Este deve ser o nosso principal objetivo e deve ser implacavelmente angariado, não importa o quão sacrificado seja. É um pré-requisito para a paz mundial.

Há um procedimento usual dos defensores do Pan-africanismo para assegurar aos africanos da diáspora que o pan-africanismo não significa retorno à África. Recuso-me a fazê-lo. No passado, eu fui vítima deste alimento crônico de complexo de inferioridade. Somos africanos, a África é a nossa casa. Mesmo que a pessoa não possa voltar para casa isso é o seu máximo desejo. África é o continente mais rico e mais bonito do mundo. O nosso continente está mergulhado na exploração e opressão, tanto externa quanto interna; os opressores internos recebem seus sangues de inimigos externos de africanos. O sofrimento da África está além da descrição, aqueles que sofrem de complexo de inferioridade crônica observa o continente superficialmente e conclui que a África está destinada à condenação eterna. Pan-africanistas sabem melhor. Mãe África é nossa, nós temos orgulho dela e para sua reconstrução gloriosa nos comprometemos nossas vidas.

A questão agora, qual é a melhor forma de alcançar o nosso objetivo. A fim de lançar um programa claro, devemos ter bases sólidas. Temos que ter países com líderes como o presidente Nkrumah e Presidente Touré dispostos a renunciar à sua soberania para uma comunidade Africana maior. Para os nossos propósitos, podemos dividir os estados da África em três grupos: (a) Os Estados progressistas, (b) Os Estados neocolonialistas e (c) colônias de povoamento europeu. Neste momento, temos que consolidar nosso poder. Portanto, devemos apoiar os povos e governos dos demais poucos estados progressivos. Esses líderes, cujo único excedente é a escassez, que estão lutando contra todas as adversidades para erguer os seus estados podem ser divididos em dois grupos: os estados que vieram diretamente do colonialismo para o neocolonialismo e estados que passaram pelo palco de uma verdadeira independência política.

Devemos concentrarmos nestes últimos estados, onde os líderes tiveram uma oportunidade para educar as massas, lançando assim as bases para o socialismo real. Depois de golpes de Estado e assassinatos, esses estados foram devolvidos ao neocolonialismo com ajuda de traidores africanos. Esses estados em um futuro muito próximo vão chegar no momento dialético em que, dadas as condições objetivas corretas, duas filosofias diametralmente opostas irão colidir. Destes estados, Gana é o mais importante por causa do trabalho de Osagyefo, que desenvolveu Gana para o centro da atividade Pan-Africana no mundo. Ao derrubar Dr. Nkrumah os inimigos e traidores do povo africano procuraram destruir o Pan-africanismo. Mas teve o efeito inverso, o pan-africanismo tem agora a unidade de propósito.

O Pan-africanismo se cristalizou em torno da queda trágica de Gana para o neocolonialismo, e pan-africanistas do mundo lançaram sua sorte com as massas que sofrem em Gana. Entre eles estão esses líderes africanos e pessoas como o grande Ahmed Sékou Touré e os nossos irmãos e irmãs de Guiné. As linhas de batalha estão desenhadas. Estamos com as massas contra os traidores africanos que servem como fantoches. Nas colônias de colonos europeus que contaminam o nosso continente e os povos, temos de nos preparar para a luta prolongada e uma luta até a morte. Nenhuma quantidade de conversa agrada a consciência ou até mesmo apelos a organizações mundiais vão resolver esse problema. A única solução é a de conduzir esses desreguladores da nossa sociedade para o mar. Podemos esperar e devemos aceitar o fato de que as potências europeias vão lutar com os colonos; afinal eles são como unha e carne e lutam pelos mesmos interesses. Nossos irmãos e irmãs nessas colônias são incapazes de alcançar a vitória a sós, porque eles estão lutando (contra) NATO.** Mesmo que pudessem alcançar a vitória por si só devemos ajudá-los, porque cada polegada quadrada de África pertence a todos nós. Ver as colônias de povoamento como entidades separadas é perder o barco. A fim de eliminar a contaminação do nosso continente, devemos unir todos os nossos recursos disponíveis. Visto por este prisma, os estados neocolonialistas são cruciais. Esses estados devem balancear o pêndulo. Uma vez liberada a partir dos tentáculos do imperialismo, e unidos com os estados progressivos, eles vão produzir uma base revolucionária mais forte para lançar nossos ataques contra os inimigos da Mãe África e seus povos.

O Africano nos últimos quinhentos anos não conheceu paz nem justiça, sua riqueza e seu trabalho construíram a Europa Ocidental e a América. Quando estas forças forem aproveitadas para nosso benefício, a reconstrução da Mãe África será digna de seu passado glorioso. O revés em Gana não é motivo para desespero. Pan-africanistas sabem que as dificuldades não são novas para a luta africana. Não temos medo do derramamento de sangue inevitável, para além dele, vemos a vitória no ar.

*by Dr. Nkrumah
** North Atlantic Treat Organization (United States and Western European military establishment).


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