sexta-feira, 10 de abril de 2015

Entrevista com a MC Simony

"Totalmente contra a redução (da idade penal)! Querem negociar a vida dos nossos meninos e meninas, e isto é inegociável."

Confira a Música:
Mc Simony - Não Pago Simpatia
https://soundcloud.com/rapperpirata/simoni-nao-pago-simpatia
Facebook: https://www.facebook.com/simony.marques.50





Entrevista

Spqvcnaove - Quem é a Mc Simony?
SIMONY - A Mc Simony é uma mulher comum, mãe, rapper, e articuladora de alguns projetos.

Spqvcnaove - Como surgiu o Rap na sua vida? Desde quando atua como Mc?
SIMONY - O rap na minha vida surgiu desde muito nova nas festas de rap que existiam nas ruas da minha quebrada, Jd Guarani vila Brasilândia. Minha mãe me levava pra igreja eu chegava e corria pro rap, rs. Então me identificava com as letras porque falava da realidade que eu fazia parte. Já escrevia algumas coisas, mas aos 16 anos compus a minha primeira letra falando da realidade de uma adolescente na periferia, dali comecei a me apresentar nas quermesses do meu bairro sempre com o pensamento de passar a mensagem pra fortalecer assim como daquelas festas que eu ia e sempre a mensagem me fortalecia.

Spqvcnaove - Já fez ou faz parte de algum grupo de Rap?

SIMONY - Sim, já fiz. Participei do grupo Hulda, começamos como um projeto de hip hop e formamos o grupo de rap Hulda, fiquei na formação por três anos e foi muito loko.

Spqvcnaove - Por que cantar Rap?
SIMONY - O rap pra mim é a força das palavras transformada em canção, uma forma de luta uma cultura que é muito foda, que conta nossa história como realmente é. Sempre quando me perguntam isso faço questão de responder: "não escolhi o rap, mas ele me acolheu". Eu ouvia minha realidade nas letras de rap que ouvia.

Spqvcnaove - Como você vê o movimento Hip Hop na atualidade?
SIMONY - O movimento Hip Hop é forte um movimento das ruas, que unido tem uma missão pesada, porém acho que atualmente o movimento tem se dividido, e é ruim porque acredito que juntos somos mais fortes, os elementos do hip hop ainda continuam salvando muitas vidas, mas sempre vou preferir acreditar que juntos somos mais fortes, não tem preço ver os 4 elementos um fortalecendo o outro. Foda!

Spqvcnaove - Quais são suas influências musicais? O que te inspira a compor?
SIMONY - Minhas influências... sempre ouvi de tudo, lá em casa desde sempre meu pai ouvia Elis Regina, Clara Nunes, Michael Jackson, muito samba raiz, e sempre fui apaixonada por todos esses sons também, gosto desde Lauren Hill a James brown, de Dina Di ao fundo de quintal, ouço de tudo. Gosto de musica.

Spqvcnaove - Você tá trabalhando algum álbum? Poderia adiantar algo sobre?
SIMONY - Atualmente acabei de lançar a música do meu novo trampo solo. A musica "NÃO PAGO SIMPATIA", e agora estou pra lançar o clip da musica e trabalhando em um E.P com 4 musicas pra apresentar essa nova fase. Que vai se chamar "Recomeço".

Spqvcnaove - Quais projetos você participa?
SIMONY - O projeto que mais tenho atuado e me dedicado hoje é o projeto Oz guarani, onde realizo trabalhos com o hip hop junto com os adolescentes e as adolescentes da aldeia tekoa pyau. O hip hop é visto por eles como mais uma arma de luta, o que faço é simplesmente fortalecer isso.


Spqvcnaove - Você está próxima de grupos indígenas, o que você desenvolve com el@s? E quais são os mitos criados sobre a questão indígena?
SIMONY - Existem varias questões quando se trata dos grupos indígenas, só que estes grupos não são totalmente nativos tendo que se adaptar a algumas coisas por questões de sobrevivência, acaba sofrendo preconceito dentro do próprio bairro por serem indígenas. Isso acaba mexendo muito com a autoestima dos adolescentes meninos e meninas, que não se sentem parte dali, mas que também não podem hoje viver plenamente sua cultura. São articulados e suas lideranças é lição pra todos nós, porém precisamos unir forças pra lutar em prol dos nossos irmãos indígenas e o hip hop tem tido esse papel hoje dentro das aldeias. O hip hop é considerado por eles como mais uma arma de luta para que suas causas sejam ouvidas.


Spqvcnaove - Em março de 2015 tivemos no município de São Paulo o maior evento de Hip Hop no Brasil, O Mês do Hip Hop. Março esteve tomada pelo Hip Hop, um feito enorme pautado pelo próprio Hip Hop, qual a sensação de ter participado desse momento histórico?
SIMONY - Bom!! Saber que o hip hop uniu forças e conquistou uma parada assim já é muito gratificante, ver artistas de todas as zonas construindo juntos e realizando é muito loko, as discussões pautadas sobre o genocídio nos CEUs, oficinas, ver a semana de hip hop virar mês e ver que podemos mais, este ano poder participar desse bang não só como espectadora, mas como atuante, foi sem palavras!!!

Spqvcnaove - Qual é sua avaliação sobre o protagonismo das mulheres no Hip Hop?
SIMONY - O protagonismo da mulher no hip hop, estamos aí temos nosso espaço, o que precisamos é ocupa-lo, claro que tem muito ainda a se conquistar, mas como mulher hoje vejo caminhos pra gente buscar se unir e juntas fortalecer umas as outras, e continuar lutando para que a mulher não seja silenciada. A cena da mulher no rap e em todo hip hop está pesada, mas temos muito ainda pra buscar. 

Spqvcnaove - Quais são as maiores dificuldades enfrentadas numa sociedade machista?
SIMONY - A dificuldade é desde quando nascemos que querem nos transformar em boneca de porcelana, frágil e indefesa que precisaremos casar e construir família, isso ai já é pesado porque causa aquela falsa sensação que o sucesso da mulher só será conquistado estando nestes padrões. O tempo todo agressão as mulheres são normalizadas por uma sociedade que acha que mulher apanha porque gosta, e isso não é verdade!! Muitas são as coisas que passam uma mulher desde o abuso do olhar do cara pra sua bunda até a culpa de ser a responsável por ter sido estuprada, agredida e até mesmo morta. Isso precisa mudar!!!

Spqvcnaove - Os setores mais conservadores da sociedade apoiam a redução da maioridade penal, você acredita que é esse o caminho?
SIMONY - Jamais! Totalmente contra a redução, querem negociar a vida dos nossos meninos e meninas, e isto é inegociável. Acho extremamente importante, o movimento hip hop pautar sim a questão das mortes, alem da cultura a realidade é pesada demais e infelizmente se não for nós por nós quem esperamos que vá falar discutir por nós? Infelizmente não dá pra pensar só em shows e palcos enquanto as ruas são lavadas de sangue dos nossos pelas balas do estado genocida!

Spqvcnaove - Por que a morte do boy comove mais?
SIMONY - A morte do boy comove mais porque ele é boy. Porque normalizam a morte e o extermino de quem é da favela, acham que só uma classe tem direito de viver, e não é a nossa. Neguinho de favela pros coxinha sempre será suspeito, sempre!

Spqvcnaove - Você acredita em dias melhores para a população preta e para a população indígena?
SIMONY - Acredito que a conscientização e problematizcao das causas é um avanço, mas que de fato as forças precisam se unir, porque a única força que a gente vê de fato acontecer é a mão do Estado matando a rodo, a discriminação, o preconceito, o racismo ainda é muito forte, mas não passarão!!

Spqvcnaove - Pra finalizar, deixe um salve pra geral!
SIMONY - Agradeço o espaço, por a gente estar trocando essas ideias, e que possamos nos unir cada vez mais manos e manas nas lutas, no hip hop e na caminhada. Muita Luz pra tod@s!!!


Spqvcnaove - Valeu Simony, sucesso na luta!

sexta-feira, 3 de abril de 2015

PRETA - Poema

Preta

Preta é Razão
é o temor do feitor que se alimenta da opressão.
Preta é Divino
é pecado para o que lhe nega a humanidade, cristianismo.
Preta é Amor
como algo utópico, subversivo para a moral do homem branco.

A Razão é Preta
quem provou foi o Ocidente, o racista, burguês, escravagista e iluminista.
A Divindade é Preta
Obriga, Paulo de Tarso inventa. Agostinho aprofunda. É Tomás de Aquino que enxerta na bíblia a filosofia que o grego bola na África até que venha a Contra-Reforma abraçar a sanha capitalista que odeia pele preta.
Amar
é rompimento com o imposto que vem lhe apresentar quem é você, Preta! Chega a hora de dizer que é preta a história do ser.

(Miguel Angelo)

segunda-feira, 23 de março de 2015

Missa de sétimo dia da morte de Rogério dos Santos - morto pela pm

Ontem dia 22/03/2015 ocorreu a Procissão das Mães em homenagem ao jovem Rogério Luis dos Santos de 20 anos. Por volta das 18h30 iniciou-se o trajeto até a igreja da paz (Paróquia nossa senhora da paz na baixada do Glicério) onde ocorreu a missa de sétimo dia. Aproximadamente 150 pessoas compareceram fazendo uma marcha pacifica, apesar da pm cercar e fazer a ronda com armas em punho.

Rogério foi executado pela policia militar de São Paulo dentro de sua casa. O caso foi registrado e noticiado como se tivesse ocorrido troca de tiros, mas Rogério estava desarmado.
Mais um absurdo dessa pm que serve pra matar preto, pobre e periférico, e pra sondar as famílias com intuito de coibi-las.

Que a família tenha força para superar essa perda e tenha força pra lutar. Que a verdade seja dita.

Em Sp assim como no Brasil o luto nas periferias é diário e o genocídio é consolidado.

Foto: Rua dos Estudantes com familiares e vizinhança carregando velas nas mãos usando camiseta branca com a foto do Rogério.

Foto: Igreja da Paz, missa de sétimo dia da morte do Rogério dos Santos.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Proposta de GT na Comissão da Verdade "Mães de Maio"

No dia 12/03/2015 foi feita a proposta na reunião do conselho deliberativo da Comissão da Verdade Mães de Maio para que diversos movimentos trabalhem em conjunto nos eixos apresentados e seus sub-tópicos, podendo assim pautar na pesquisa e no relatório o racismo como elemento base e transversal.

COMITÊ CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE PRETA, POBRE E PERIFÉRICA

COMISSÃO DA VERDADE "MÃES DE MAIO"

Proposta:
O acúmulo dos trabalhos do Comitê até fins de 2012 culminou em 11 pontos, são eles; Encarceramento em Massa, Procedimentos em Hospitais que Recebem Feridos em Confronto, Indenizações e apoio a Familiares e Vítimas Fatais ou Não,  Apurações de Funcionamento de grupos de Extermínio, Acesso a Informações e Produção de Dados, Elucidações das Chacinas e Mortes e Punições Aos Possíveis Policiais Envolvidos, Comissão Mista Para Desenvolver Propostas Para a Redução da Letalidade, A Retirada dos Autos de Resistência, Garantia de Segurança para Denúncia, Autonomia do IML, Autonomia e Fortalecimento da Ouvidoria de Polícia.

Em fins de 2014 começou-se a discussão sobre a atualização dos pontos, supra, e no ato de 25 de janeiro de 2015 aprovamos a "soma" dos pontos em dois eixos; violência policial e encarceramento em massa. Apresentamos neste mesmo ato um panfleto com os dizeres; "Fim da Polícia e Fim dos Presídios".

Com isso propomos um GT conjunto com as demais organizações onde possamos a partir desses dois eixos trabalhar não só aspectos dos antigos 11 pontos mas também demais questões caras ao Comitê como Redução da Maioridade Penal e Fundação Casa.
Esperamos de nossa parte, que seja a oportunidade de pela primeira vez poder explicar esses eixos também pelo fenômeno do racismo, categoria essa marginal nas análises sobre o tema, garantir um relatório sem os preconceitos comuns a todos até agora onde esforça-se para humanizar a vida daqueles que foram mortos não pela humanidade inerente a eles, mas sim pela afirmação de que aquela pessoa não praticou ato "ilícito".

O preconceito acima citado nada mais é do que a mais pura expressão do racismo no seu significado ideológico que atribui no corpo biológico um padrão social "desviante", e essa afirmação serve de base para o reconhecimento de que esse fenômeno complexo é "uma programação social e ideológica a qual todos estão submetidos" nos dizeres da Bióloga Fernanda Lopes.

Alguns Pressupostos
* Não procedemos ruptura com o fenômeno ideológico do racismo. Esse dado permite a afirmação de que ele evoluiu junto com a sociedade, se revitalizou com as conjunturas históricas e segue fabricando e multiplicando vulnerabilidades. Ou seja, "a dicotomia racial branco versus preto que alicerçou a ordem escravocrata por três séculos" é atual "e persiste ativa na atualidade, resistindo à urbanização, à industrialização, às mudanças [no] regime político".

* Além dos privilégios relacionados a classe em nossa sociedade temos privilégios relacionados a "raça" tanto na relação com o Estado como na relação com os demais grupos sociais que procedem essas relações de privilégios no plano intersubjetivo.  

* A naturalização do quadro atual permite o discurso vigente de que o racismo produz uma hierarquia social que só diz respeito ao negro com seu "passado inequívoco e sem continuidade nos dias atuais".

Ponto a se retomar:

* Sugestão de alteração na composição dos gts quando ao coordenador: Proporemos que o pesquisador professor doutor não seja selecionado via edital mas sim indicado pelos membros dos gts constituídos.
Foto durante reunião da comissão - por Rafael Mellin

sábado, 7 de março de 2015

Luan Pereira Felix - Presente

Via Contra o Genocídio do Povo Preto

Hoje, 06/03/2015, faz um ano que o ainda adolescente Luan foi executado pela policia militar na zona leste de SP. Após suspeita de roubo Luan fugiu, entrou no estabelecimento do seu pai e se rendeu, tirou a camiseta para mostrar que estava desarmado, mas mesmo assim o Soldado Elton da Silva Bezerra e o policial Edson José Cremonesi Junior ordenaram para que todos saíssem do local e executaram o Luan com três tiros.

Os PMS alegaram que houve confronto, mas Luan estava desarmado. Esperaram mais de 40 minutos para prestar socorro, plantaram um revolver Taurus calibre 38 no local, além do mais os PMS dispensaram a SAMU (que compareceu no local) e levaram o Luan pro Hospital Municipal de São Mateus na própria viatura da PM, contrariando o teor da resolução SSP 05/2013, lá Luan apareceu com mais uma perfuração de tiro.

A direção dos tiros, que foram de cima pra baixo, aponta que realmente ele estava rendido. Só um lado da loja teve marcas de tiros, ou seja, grandes indícios de execução.
Após um ano o inquérito policial não foi finalizado, as testemunhas não foram intimadas, e a família continua sem auxilio. Na época foi feita a denúncia na ouvidoria da policia também. 

No dia 10 de março de 2015, se estivesse vivo, Luan completaria 17 anos, sua família sente muito sua falta. Luan está na memória! Que apareça a verdade! Que condenem os homicidas de farda!



Estamos de Luto! Estamos na Luta!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

PONTOS CENTRAIS CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE PRETA, POBRE E PERIFÉRICA

Por: Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica

1. ENCARCERAMENTO EM MASSA
- O QUE É O ENCARCERAMENTO EM MASSA?
Chamamos de encarceramento em massa a estratégia utilizada pelo Estado para, através do aprisionamento de jovens, pret@s e morador@s das periferias, promover a exclusão dessa população da sociedade. Em vez de garantir acesso a direitos sociais básicos, como moradia, saúde, educação, alimentação a todos os cidadãos e cidadãs, o Estado responde com mais prisões, torturas e maus-tratos.

- QUEM SÃO ESSAS PESSOAS?
Jovens, homens e mulheres entre 18 e 29 anos, pret@s e morador@s das periferias da cidade. Adolescentes também são constantemente presos nas Fundações Casas na mesma lógica.

- O QUE JUSTIFICA ESSAS PRISÕES?
A maioria dessas pessoas é presa por tráfico de drogas ilegais e por crimes contra o patrimônio (roubos e furtos). Grande parte dessas prisões por tráfico de drogas é forjada pela polícia, ou seja, se o usuário estiver portando um grama de tal droga, a polícia forja a quantia necessária para garantir a apreensão tanto da droga como da pessoa. Uma parcela pequena desse grupo está na condição de trabalhador no tráfico de drogas justamente pela negação de auxílio do Estado em garantir-lhes a mínima condição de subsistência.

Imagine que você tem uma mercadoria que possa produzir um lucro extraordinário, capaz de empregar milhões e lucrar milhares, mas ela é ilegal, o que você faria?
Produza ilegalmente em um local (fronteira nacional) e venda em outro (periferia), eis a resposta da classe dominante!

A classe dominante, composta na sua maioria pela elite branca, lucra em torno de 3 trilhões de dólares com a venda de drogas e armas ilegais, dinheiro remetido para as bolsas de valores do capital financeiro. Ou seja, é ela quem mais lucra com o consumo e venda de drogas. Eis o sentido da proibição, que é uma forma de encarcerar, matar e lucrar. A guerra às drogas é justamente o combustível do quadro atual.

- PELO FIM DA FUNDAÇÃO CASA!

A Fundação Casa (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente), antiga/ATUAL FEBEM, foi criada para executar medidas socioeducativas, que preveem como última alternativa a privação de liberdade de adolescentes entre 12 e 21 anos que cometeram atos infracionais. Mas como sempre aquilo que está no papel não acontece como deveria. 

Na Fundação Casa, ou melhor, no campo de concentração juvenil, a regra é o sofrimento. Os adolescentes são tratados com pontapés, voadoras, socos, dopamentos com remédios, humilhações, intimidações, alimentação muitas vezes estragada e de baixa qualidade. Todos os tipos de violações físicas e psicológicas são praticadas pelos agentes (coordenadores de segurança), em sua maioria ex-policiais (Força Tática, Rota e Choque), com a “pedagogia” do passando pano, sempre se omitindo e agindo em conjunto. É assim que o Estado prega a ressocialização, sendo que nem socialização existiu na vida desses adolescentes.

O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) foi criado para zelar e garantir os direitos dos menores. Porém, se o Estado nunca cuidou desses adolescentes, não vai ser encarcerando que a lei vai ser efetivada. Pelo contrário, quando presos, não há fiscalização e nem preocupação com a situação dos jovens. É aí que a porrada come, deixando sequelas para uma vida toda.

A sociedade enxerga o adolescente que cometeu um ato infracional como um inimigo: não reconhece que seus direitos foram negados, e numa visão rasa, preconceituosa e punitiva, disseminada pela mídia tradicional, apoia as situações degradantes, humilhações, torturas e as próprias grades que privam esses adolescentes de sua liberdade, de seu crescimento, de sua vida.

O sistema foi feito para que esses adolescentes estejam nessa situação, já que é extremamente lucrativo para a elite branca o encarceramento, a morte e a negação de direitos da juventude. Nesta lógica, o sistema se articula para dizimar a população preta, pobre e periférica.

O POVO PRETO, POBRE E PERIFÉRICO É PRESO OU MORTO PELOS CRIMES DA CLASSE DOMINANTE, COMPOSTA NA SUA MAIORIA PELA ELITE BRANCA!

2. POLÍCIA
- Por que polícia?
Normalmente, temos em nossa mente a ideia de que a polícia existe para nos proteger e dar segurança. Será que podemos acreditar nisso? Vejamos.

As primeiras polícias no Brasil eram na verdade um grupo de homens armados, chamados de “jagunços”, que tinham a função de proteger a propriedade da elite branca escravagista, milícias que tinham fundamentalmente a função de caçar africanos escravizados.

Em 1840, quando a cultura do café passou a ser o setor mais importante da economia nacional, São Paulo, Rio de Janeiro, sul da Bahia e parte de Minas Gerais, onde a cultura do café era forte, começaram a criar guardas nacionais. É neste momento que os Estados criaram suas próprias polícias, mantendo a função de recapturar africanos escravizados e reprimir suas revoltas, rebeliões e insurreições. Observe que, desde esse momento, o caráter de repressão das forças de segurança já foi dado.

- Quando a polícia nos protege?
Essa questão tem uma resposta, simples e chocante. A função da polícia não é combater a violência e a vida, e, sim, apenas, de proteger a propriedade privada, recapturar africanos escravizados, matar e esquartejar em caso de resistência.

A função da polícia é DEFENDER a propriedade privada da CLASSE DOMINANTE, composta na sua maioria pela elite branca!

Na guerra do Paraguai, surgiu a necessidade de unificar em um só exército as diversas polícias existentes. Veja, então, que antes ela reprimia quem era do país, e depois quem estava fora dele. Ou seja, surge, no modelo de segurança, primeiro, o inimigo interno e, em seguida, o inimigo externo. Essas forças repressivas que combateram, massacraram e dizimaram o Paraguai retornaram ao Brasil e iriam constituir no início do século XX (1900) de uma vez por todas a polícia em todo país. Essa é a origem da Polícia Militar que temos hoje em dia, criada num decreto de 1970.

As antigas milícias se chamam GRUPOS DE EXTERMÍNIO. Esses grupos matam todos os dias em nossas periferias, matam porque ninguém irá questioná-los. Os hospitais aceitam com naturalidade a chegada dos corpos crivados de tiros, e o Estado não reconhece sua responsabilidade por essas vidas. As mortes não são apuradas, as famílias não são indenizadas e os responsáveis por esses homicídios não são revelados. Nossa voz continua sendo calada eternamente.

A lei é a arma da polícia e OS GRUPOS DE EXTERMÍNIO SÃO POLICIAIS SEM FARDA (justiceiros). A cidade que mais mata dentro de um dos estados que mais mata faz com que eu, você, nós todos aceitemos que noss@s jovens pret@s, pobres da periferia não estejam nas melhores universidades, nas mais destacadas vagas de trabalho e, sim, lotando gavetas no IML.

Agora dá para saber brevemente o que é a polícia na verdade? Se liga, isso é a função da policia, essa é a função do Estado. Se liga, isso que é a ordem.

A mais alta razão, a mais alta ciência, o mais alto desenvolvimento tecnológico de pouco valem numa sociedade em que não há acesso a casa, comida, trabalho, educação e saúde para todos. De que vale então todo esse “progresso”, se na verdade vivemos numa realidade primitiva, em que há pessoas para prender, pessoas para matar, pessoas para julgar, lugares para encarcerar.




sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Meu preconceito contra os brancos

Será que tenho que ser cauteloso ao discutir o racismo no Brasil com as pessoas não negras?

Por Fuca


Ao debater esse assunto temos, muito comumente, divergências relativas à identidade. O padrão branco europeu, há tempos, vem sendo disseminado em nossas vidas desde a mais tenra idade, onde tivemos também uma política de miscigenação no intuito de embranquecer a população brasileira quebrando as barreiras para inserção no mundo dos brancos. O abrasileiramento é então a chave para aceitação do povo preto, sendo assim, a busca pela branquitude é sistematicamente angariada. A experiência própria nessa questão de morder a isca dos brancos ainda me faz crer que poucos escapam e que a maioria em dado momento da vida reproduziu a branquitude. A questão da raça negra agora passa a ser travestida em raça humana, nos afirmar como pessoas pretas e identificar nossos inimigos pode para alguns se tornar uma atitude preconceituosa, ou seja, racismo inverso. Stokely Carmichael (Kwame Ture) num trecho duma entrevista disse algo sobre o branco ser vitima de preconceito:

"Eu acho que o problema é que muitas pessoas na América pensam que o racismo é uma atitude. E isso é incentivado pelo sistema capitalista. Assim, eles pensam que o que as pessoas pensam é o que os torna um racista. O racismo não é uma atitude. "Se um homem branco quer me linchar, isso é problema dele. Se ele tem o poder de me linchar, aí esse problema é meu. O racismo não é uma questão de atitude, é uma questão de poder. "O racismo obtém sua energia a partir de capitalismo. Assim, se você é antirracista você deve ser anticapitalista. O poder para o racismo, o poder para o sexismo, vem do capitalismo, e não de uma atitude. "Você não pode ser racista sem energia. Você não pode ser um machista sem energia. Mesmo os homens que espancam suas esposas obter essa energia da sociedade que lhe permite, tolera-o, encoraja-o. Não se pode ser contra o racismo, não se pode ser contra o sexismo, a menos que um é contra o capitalismo".

Se formos às ruas e perguntar se o preconceito de cor existe, provavelmente teremos algumas pessoas dizendo que sim; se perguntarmos se elas têm esse preconceito teremos um não e teremos ainda uma condenação do preconceito como algo que é prejudicial pra quem o comete, não há empatia alguma com quem o sofre. A miscigenação traz um mito da democracia racial, como se vê ou tentam nos fazer ver é que existe hoje em dia certa harmonia entre as raças, como se isso interessasse para o povo preto, essa harmonia é migalha, o combate tem que ir mais a fundo, tem que atingir o RACISMO INSTITUCIONAL.

A negação da existência do racismo é interessante para os brancos que detém privilégios, e aos que aparentemente não se encaixam como privilegiados e dizem que o racismo não existe acabam “prestando o serviço” de reproduzir e blindar os acúmulos historicamente injustos dos brancos.

Ao analisar, mesmo que superficialmente, o Brasil de 2015, o povo preto continua com seus lugares predestinados, que é viver em favelas, não se alimentar bem, não ter educação, não ter direito a saúde e trabalhar nos cargos mais precarizados na lógica de escravos. Ao analisar, mesmo que superficialmente, o Brasil de 2015, o povo preto continua com seus lugares predestinados, que são as celas lotadas do sistema carcerário, a própria rua como moradia, ou covas rasas com caixões lacrados sem direito a velório. Nos colocam goela abaixo que trabalhando duro teremos sucesso, pura mentira! Se fosse verdade teríamos que ser donos de tudo, de tudo, porque o que vemos é quem não trabalha ter as riquezas concentradas.

Num sistema capitalista a classe menos favorecida é explorada. Com as pessoas negras além da exploração que é uma mesma raça te explorando, ocorre todo o processo de colonização e de coisificação, que é uma raça (branca) exercendo o poder de dominação sobre o povo preto. É algo sim mais profundo, não se deve igualar as desigualdades sociais com as desigualdades raciais. Parece que tendemos a aceitar concessões e colocar o pé no freio, parece que tendemos a aceitar as anestesias e nos contentar com pequenos “avanços”. Em meio a toda essa falta de estrutura e toda essa negação de direitos, não me privarei do direito de ter ódio do algoz e suas características, e se o ódio contra os brancos tem que ser justificado tenho motivos de sobra para isso.

(...) “O ‘dilema racial brasileiro’ é complicado. Não tanto por desempenharem os brancos e negros os papéis que deles se esperam de disfarçar ou negar o ‘preconceito de cor’ e a discriminação de cor, mas porque o único caminho aberto à mudança da situação racial depende da prosperidade gradativa, muito lenta e irregular dos negros. Sob esse aspecto, é fora de dúvida que o preconceito e a discriminação, nas formas que assumem no Brasil, contribuem mais para manter o modelo assimétrico das relações de raça do que para eliminá-lo.” (Florestan Fernandes).

Talvez esteja provado que essa problemática secular do racismo não deve ser uma luta somente das pessoas negras devida dimensão da coisa, mas o cuidado deve prevalecer para que não sejamos mais uma vez na história pautados pela classe dominante e que possamos unir forças contra o inimigo em comum. O meu preconceito contra os brancos visa atingir seus lucros, seus privilégios e seus padrões que foram impostos. Enquanto lutarmos para escapar das dominações, lutaremos contra os brancos e todas as instituições que os servem.